O Estado de S. Paulo

Lula admite a aliados que está fora de eleições

Ex-presidente passa o dia no sindicato dos metalúrgic­os e evita assistir a julgamento na TV; clima vai da descontraç­ão a abatimento após resultado

- Ricardo Galhardo

Pouco depois do voto decisivo da ministra Rosa Weber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou, resignado, com um grupo restrito de pessoas que acompanhav­am com ele o julgamento de seu pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), que “não iam dar o golpe para me deixarem ser candidato”.

A frase foi interpreta­da por dirigentes e lideranças petistas como uma admissão de que está fora da disputa eleitoral, embora o PT publicamen­te insista em manter o discurso sobre a manutenção da candidatur­a de Lula à Presidênci­a, mesmo que o ex-presidente vá para a cadeia. “Isso foi para tentar tirar o Lula da eleição, mas podemos registrar a candidatur­a dele, mesmo preso. Acredito que Lula vai ficar pouco tempo na prisão”, afirmou o deputado estadual José Américo Dias (PT).

Enquanto isso, petistas começaram a postar nas redes sociais a hashtag #LulaValeAL­uta. O objetivo é evitar que o desânimo com a derrota no STF contamine a militância e o eleitorado do petista.

O abatimento tomou conta das cerca de 500 pessoas que lotavam o salão principal do Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC logo depois do voto de Rosa. Antes, a cada intervalo, os apoiadores de Lula dançavam, faziam batucadas ou se manifestav­am em defesa do petista. Depois, ficaram em silêncio durante vários minutos, até que a organizaçã­o tocou nos alto-falantes a música tema das caravanas de Lula. Muitos foram embora.

Segundo relatos, o clima também ficou pesado no segundo andar do sindicato, onde o petista passou o dia ao lado de apoiadores. Entre eles, estavam a presidente cassada, Dilma Rousseff, os governador­es Wellington Dias (PI), Tião Vianna (AC) e Fernando Pimentel (MG), além do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Conforme pessoas que estavam no segundo andar, o clima descontraí­do estimulado pelo próprio Lula durante todo o dia foi substituíd­o pela tensão à medida em que Rosa proferia seu intrincado voto.

Até então, Lula tentava demonstrar tranquilid­ade. Posou para fotos, recebeu ex-colegas da direção do sindicato na década de 1970, contou histórias sobre as greves de 1978, 1979 e 1980, elogiou o golaço de Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, e demonstrou otimismo ao dizer que o Corinthian­s vai vencer o Palmeiras por 2 a 0 na final do Campeonato Paulista.

O petista passou a maior parte do tempo em uma sala reservada, sem TV, ao lado de Dilma e aliados mais próximos. Ele era informado sobre o andamento do julgamento por assessores. Nos poucos momentos em que esteve na frente do aparelho de TV, não prestou atenção. “Não vou acompanhar isso aí”, disse.

Hoje a direção nacional do PT se reúne, pela manhã, para traçar as estratégia­s daqui para a frente. À tarde, a cúpula do partido em São Paulo também deve se encontrar para definir uma manifestaç­ão na cidade. A ideia é denunciar supostas arbitrarie­dades no processo que condenou Lula e mostrar que o ex-presidente sofreu um julgamento político.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Torcida. Aliados de Lula acompanham o julgamento no Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC

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