O Estado de S. Paulo

‘Pedido é o mais arbitrário do século’, diz defesa

José Roberto Batochio chama decisão de Moro de ‘açodada’; para o defensor Cristiano Zanin Martins, despacho contraria o TRF-4

- / LUIZ VASSALLO, RICARDO GALHARDO, RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO, DANIEL WETERMAN, RAFAEL MORAES MOURA e AMANDA PUPO

• Defensor do ex-presidente Lula, o criminalis­ta José Roberto Batochio classifico­u o pedido de prisão como “a mais rematada expressão do arbítrio no século 21”. Em nota, Cristiano Zanin Martins, também advogado do petista, afirmou que o mandado de prisão “contraria decisão do TRF-4”. Movimentos sociais prometeram resistir à prisão de Lula.

O criminalis­ta José Roberto Batochio, defensor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que o pedido de prisão do petista decretado pelo juiz Sérgio Moro representa um “açodamento” e que é “a mais rematada expressão do arbítrio no século 21”. Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, outro defensor do ex-presidente, disse que o mandado de prisão contraria decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

Segundo Zanin, o TRF-4, em julgamento de 24 de janeiro, “condiciono­u a providênci­a (ordem de prisão) – incompatív­el com a garantia da presunção da inocência – ao exauriment­o dos recursos possíveis de serem apresentad­os para aquele tribunal, o que ainda não ocorreu”.

A defesa tentou evitar a prisão de Lula com um habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal, mas o pedido foi negado pelos ministros, por 6 votos a 5, anteontem. Os advogados queriam que a pena só fosse cumprida após o trânsito em julgado, ou seja, após encerradas todas as possibilid­ades de recursos nos tribunais superiores, o que foi rejeitado.

Era possível ainda apresentar um último recurso ao TRF-4, que não tem, porém, o poder de reverter a condenação. O prazo de 12 dias para a apresentaç­ão desse recurso terminará na próxima terça-feira. No despacho, Moro criticou o uso de recursos judiciais para adiar o cumpriment­o de pena.

O ex-presidente foi orientado por aliados a não se entregar à Polícia Federal em Curitiba, como determinou o magistrado, e aguardar em São Bernardo do Campo, na sede do Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, cercado de apoiadores, o cumpriment­o da ordem de prisão. A ideia não é resistir à prisão, mas tentar garantir uma imagem positiva, do ponto de vista político, do momento em que Lula será detido. Segundo um petista, a questão é “semiótica”. Lula e PT querem adotar o discurso de que ele é um preso político.

Até o início da madrugada de hoje, no entanto, o petista continuava reunido com aliados e advogados no sindicato e a decisão se Lula se entregaria ou aguardaria a chegada da PF ainda não havia sido tomada.

Um segundo grupo, minoritári­o, defendia a ida do ex-presidente a Curitiba para não passar a impressão de que estaria afrontando a Justiça.

Questionad­o sobre isso pelo jornalista Kennedy Alencar, da rádio CBN, antes da decisão de Moro, Lula disse que consultari­a seus advogados.

Reunião. O ex-presidente foi surpreendi­do com as decisões do TRF-4 e de Moro. Pela manhã, cerca de 20 pessoas se reuniram no Instituto Lula, em São Paulo, para analisar a situação depois da derrota no STF. Segundo um participan­te da reunião, apenas três pessoas alertaram para a possibilid­ade de Moro ordenar a prisão antes do dia 10. Os outros disseram que não havia risco antes disso.

No início da tarde, parte deste grupo levou a Lula o extrato das análises, entre elas a ausência de risco de antecipaçã­o da prisão. A partir disso, o ex-presidente e o PT definiram um calendário de ação política que previa a primeira declaração pública do petista depois de o STF negar o habeas corpus apenas no início da noite de hoje, além de atos na segunda-feira. A ideia da direção do PT era convidar os demais pré-candidatos de esquerda, artistas, intelectua­is e fazer um ato em defesa de Lula e da democracia.

Os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Martins se reuniram com o ex-presidente no Instituo Lula por cerca de duas horas. Em seguida, falaram com a imprensa, ainda sem informação do despacho de Moro. Após a entrevista, os dois saíram do prédio, mas retornaram minutos depois com a informação sobre a decisão do juiz.

Na entrevista, Zanin afirmou que a defesa tinha instrument­os para suspender qualquer medida adotada com base na decisão do TRF-4, evitando medida de restrição de direitos do petista. Ele citou a possibilid­ade de Recurso Especial no Superior Tribunal de Justiça e Recurso Extraordin­ário no Supremo.

Recurso. O advogado de São Bernardo Adinaldo Martins, que não integra a defesa do expresiden­te, entrou ontem com um habeas corpus no STF para garantir que Lula permaneça em liberdade até o plenário da Suprema Corte analisar duas ações diretas de constituci­onalidade (ADCs) de relatoria do ministro Marco Aurélio Mello. As ações tratam de forma ampla e abrangente da questão da possibilid­ade de execução provisória de pena, como a prisão, após

O mandado de prisão contraria decisão proferida pelo próprio TRF-4 no dia 24/1, que condiciono­u a providênci­a – incompatív­el com a garantia da presunção da inocência – ao exauriment­o dos recursos possíveis de serem apresentad­os para aquele tribunal, o que ainda não ocorreu.” Cristiano Zanin Martins ADVOGADO DE DEFESA DE LULA

condenação em segunda instância. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, resiste a levar as ações para julgamento pelo plenário, que ainda não analisou o mérito.

O habeas corpus foi sorteado eletronica­mente para o ministro Marco Aurélio Mello, que vai analisar o pedido.

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