O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

A presidente do PT chama o Brasil de “republique­ta de banana”, mas o que se pretende é justamente que a justiça valha para todos.

Muitos comemoram, muitos choram, mas não há o que comemorar nem chorar na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, homem com biografia vibrante, que saiu do horror da miséria, sacudiu num pau de arara, virou o maior líder sindical da história recente, chegou à Presidênci­a e saiu dela com 80% de aprovação. Mas fez tudo o que fez ao chegar ao poder.

Para o ministro Gilmar Mendes, a prisão de Lula “mancha a imagem do País”. Para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, transforma o Brasil numa “republique­ta de bananas” aos olhos do mundo. É verdade que há grande mobilizaçã­o das esquerdas brasileira­s em defesa de Lula junto a governos, líderes e sociedades. Mas não é verdade que Lula seja uma “vítima das elites”, “um perseguido político”.

Assim como não se pode classifica­r de “golpe” o impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff, não se pode chamar de “golpe” as sucessivas decisões que condenaram Lula a 12 anos e 1 mês de prisão.

Dilma se mostrou incompeten­te para gerir a política, a economia e as contas do País e efetivamen­te fez as “pedaladas” – deixou de transferir recursos do Tesouro para os bancos públicos pagarem os programas sociais. Por quê? Para mascarar o rombo das contas públicas e, pior, continuar gastando em ano eleitoral. É crime.

Quanto a Lula: a primeira condenação é pelo seu caso mais simples, o do triplex do Guarujá, mas isso está inserido num contexto muito mais complexo, que envolve várias outras ações, pelo sítio em Atibaia, pela Operação Zelotes, pelo Instituto Lula... E, principalm­ente, pela evidência (até pela fala do ex-ministro Antonio Palocci) de que Lula institucio­nalizou a corrupção. Corrupção sempre houve, mas articulada e operaciona­lizada a partir do Planalto e do Ministério da Fazenda?

O impeachmen­t de Dilma seguiu todos os trâmites legais: o Supremo definiu o rito, a Câmara votou em dois turnos, o Senado também, a sessão final foi presidida pelo então presidente do Supremo. Tudo foi transmitid­o ao vivo para a população, sem uma só restrição às liberdades individuai­s.

E a prisão de Lula, por mais triste que seja, e é, seguiu todos os trâmites legais: investigaç­ão da Polícia Federal, do Ministério Público, da Receita, com julgamento em primeira instância, confirmada pelo TRF-4 e após tanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto o próprio Supremo Tribunal Federal negarem o pedido de habeas corpus apresentad­o por advogados de grande respeitabi­lidade.

Golpe? Que golpe? Lula apenas se tornou o foco e a síntese de um intenso debate que divide o Supremo, o Planalto, o Congresso, os partidos, os formadores de opinião e toda a sociedade brasileira. Deixar Lula livre em nome de sua biografia e de seu prestígio internacio­nal, ou prosseguir firmemente num processo histórico de combate a uma corrupção estratosfé­rica? Deixar Lula livre em nome de não se criminaliz­ar todo o sistema político, ou manter o processo de depuração das instituiçõ­es e dos quadros políticos? É disso que se trata.

Essas questões remetem para o voto do ministro Luís Roberto Barroso durante o julgamento no Supremo: um país não é justo quando garotos pobres com um baseado de maconha são jogados nas prisões, mas ricos, poderosos e famosos matam, roubam, corrompem e são corrompido­s e nada acontece com eles.

A presidente do PT defende o regime Maduro e acusa o Brasil de “republique­ta de banana”, mas é exatamente o oposto. O que se pretende é justamente que a justiça valha para todos e que o Brasil deixe de ser uma republique­ta que massacra os pobres e endeusa os poderosos.

A prisão de Lula, aliás, é um aviso: quem comete crimes que ponha as barbas de molho. Fim da farra.

A prisão de Lula é um aviso: quem comete crimes que ponha as barbas de molho

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil