O Estado de S. Paulo

No despacho, juiz proíbe uso de algema ‘em qualquer hipótese’

PF reserva sala especial na superinten­dência, em Curitiba, para petista cumprir a pena isolado dos demais presos

- Luiz Vassallo Ricardo Brandt ENVIADO ESPECIAL / CURITIBA Fausto Macedo

Ao decretar a ontem a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro determinou que, em razão da “dignidade” do cargo que ocupou, o petista tenha a oportunida­de de se apresentar voluntaria­mente à Polícia Federal, em Curitiba, até as 17 horas de hoje. Pela mesma razão, Moro proibiu o uso de algemas “em qualquer hipótese” e ordenou que Lula cumpra a pena em uma espécie de sala de Estado-Maior, na Superinten­dência da PF da capital paranaense, reservada e separada dos demais presos.

Lula foi condenado em segunda instância, em janeiro, a 12 anos e 1 mês no caso do triplex do Guarujá (SP). Anteontem, o Supremo Tribunal Federal negou um habeas corpus preventivo ajuizado pela defesa do petista, que pedia que a ordem de prisão só fosse executada após o trânsito em julgado, ou seja, quando fossem esgotados todos os recursos possíveis.

A decisão de Moro, antecipada pelo portal estadão.com, foi expedida às 17h50 de ontem, menos de 20 minutos depois de o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) autorizar a execução da pena, e pegou de surpresa a defesa do petista. No início da tarde, os advogados de Lula ainda esperavam entrar com um último recurso no tribunal para evitar a prisão.

No despacho, Moro argumentou que “não cabem mais recursos com efeitos suspensivo­s junto ao TRF-4”. Segundo o juiz, o último recurso – que a defesa pretendia ingressar no tribunal de Porto Alegre na semana que vem – tem caráter “protelatór­io”, e não altera a sentença.

“Hipotético­s embargos de declaração de embargos de declaração constituem apenas uma patologia protelatór­ia e que deveria ser eliminada do mundo jurídico. De qualquer modo, embargos de declaração não alteram julgados, com o que as condenaçõe­s não são passíveis de alteração na segunda instância”, escreveu o juiz.

Os detalhes da apresentaç­ão de Lula à PF serão combinados entre a defesa do ex-presidente e o delegado Maurício Valeixo, superinten­dente da corporação PF no Paraná.

‘Cela’. O local para o cumpriment­o da pena de Lula já está preparado. O ex-presidente ficará isolado dos demais presos em uma sala especial que fica na cobertura do prédio de quatro andares da PF em Curitiba.

Com cerca de 3 por 5 metros, banheiro com pia, vaso sanitário e chuveiro quente, janelas pequenas gradeadas, o cômodo servia de alojamento para policiais em missão na capital paranaense. O dormitório tinha três beliches, uma mesa pequena e TV, de acordo com policiais que já dormiram no local.

Apesar de ficar isolado, Lula receberá o mesmo tratamento dos demais presos: café com leite e pão com manteiga pela manhã e quentinhas no almoço e no jantar, com direito a alimentos levados pela família uma vez por semana, dentro de uma lista preestabel­ecida pela polícia. Os contatos com advogados, familiares e horas de banho de sol por dia devem ser os mesmos dos outros internos.

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‘Dignidade’. Moro cita em decisão cargo ocupado por Lula

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