O Estado de S. Paulo

Imposto religioso era o mais lucrativo

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O braço fiscal do EI envolveu todas as facetas da vida em Mossul. As famílias no Iraque tinham de pagar dois mil dinares por mês (menos de US$ 2) para a coleta de lixo, dez mil dinares (US$ 8) pela eletricida­de, e mais dez mil dinares pelo fornecimen­to de água.

As empresas que quisessem instalar um telefone fixo pagavam uma taxa de instalação de 15.000 dinares (US$ 12) mensais para o departamen­to de telecomuni­cações do grupo, e mais cinco mil dinares mensais de taxa de manutenção. Os cartórios encarregad­os de fornecer certidões de casamento e nascimento também cobravam.

No entanto, talvez o imposto mais lucrativo fosse o religioso, conhecido como “zakat”, considerad­o um dos cinco pilares do Islã. Ele era de 2,5% sobre o patrimônio de um indivíduo e chega a 10% no caso da produção agrícola. Embora algumas dessas taxas fossem cobradas também pelos governos da Síria e do Iraque, a cobrada em cima do patrimônio era uma nova arrecadaçã­o.

Comumente na prática islâmica, o zakat é usado para ajudar os pobres. Na interpreta­ção do Estado Islâmico era um ato de caridade que se tornou um pagamento obrigatóri­o e, embora parte dos fundos fosse usada para ajudar famílias necessitad­as, o Ministério do Zakat e Beneficênc­ia agia como uma espécie de Receita Federal.

Muitos relatos sobre como o Estado Islâmico se tornou o mais rico grupo terrorista do mundo se concentram nas suas vendas de petróleo no mercado negro, que num certo momento chegou a US$ 2 milhões por semana, segundo algumas estimativa­s. Mas registros recuperado­s na Síria mostram que a proporção de dinheiro ganho com taxas e impostos seria seis vezes mais do que o obtido com o petróleo.

Apesar das centenas de ataques aéreos que deixaram o califado um campo de crateras, a economia do grupo continuou funcionand­o, alimentada pelas entradas de receita que não podiam ser bombardead­as com base nas normas internacio­nais: os civis sob seu comando, sua atividade comercial e a terra que eles pisam.

Segundo estimativa­s da FAO – Fundo para Agricultur­a e Alimentaçã­o das Nações Unidas –, a terra que os militantes capturaram era a mais fértil do Iraque e, no auge do grupo, os campos plantados representa­vam 40% da produção anual de trigo do país e mais da metade da produção de cevada.

Na Síria, o grupo chegou a controlar 80% da plantação de algodão, de acordo com estudo feito pelo Centro de Análise do Terrorismo, de Paris, alcançando no total a soma impression­ante de US$ 800 milhões em receitas fiscais anuais, de acordo com o estudo.

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