O Estado de S. Paulo

VENEZUELAN­OS PREFEREM LAVAR PRIVADA NOS EUA

Exilados respondem a comentário de Maduro, que havia criticado os cidadãos que deixaram o país

- Rachelle Krygier THE WASHINGTON POST / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Em um discurso na terça-feira, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, zombou dos muitos cidadãos que deixaram o país nos últimos anos, afirmando que eles lamentam terem fugido para, no fim, acabarem “lavando privadas em Miami”. O comentário causou indignação e provocou respostas iradas dos venezuelan­os no exílio.

“Maduro não precisa lavar privadas no exterior porque ele transformo­u a Venezuela em seu próprio banheiro”, tuitou Chelo Diaz, reproduzin­do uma piada que circula na Venezuela.

A Venezuela vive um êxodo em massa – mais de 1 milhão de pessoas abandonara­m o país nos últimos dois anos, segundo a Organizaçã­o Internacio­nal para Migração – e não há indícios de que o fluxo seja interrompi­do. Pesquisa recente indicou que outro milhão planeja ir embora.

O Alto Comissaria­do da ONU para Refugiados (Acnur) informou recentemen­te que o número de venezuelan­os pedindo asilo no exterior cresceu 2.000% desde 2014. Novas orientaçõe­s foram expedidas pelo Acnur para que outros países tratem os migrantes venezuelan­os como refugiados.

Além da repressão política, a economia do país entrou em colapso. Estima-se que a inflação feche o ano em 13.000%, a mais alta do mundo, de acordo com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). As prateleira­s dos supermerca­dos estão vazias, a infraestru­tura médica desmorona e o número de crianças abandonada­s aumentou – entre outras crises.

Maduro, candidato à reeleição em maio, afirma que o total de venezuelan­os que deixam o país é menor que o que dizem as organizaçõ­es internacio­nais. No discurso de terça-feira, em Barquisime­to, ele chamou de “propaganda anti-Venezuela” as reportagen­s sobre os problemas que o país enfrenta. Seu governo

tem acusado a imprensa internacio­nal de promover uma “guerra psicológic­a”.

Em resposta ao discurso de terça-feira, venezuelan­os afirmaram que é preferível lavar privada a permanecer no país. “O salário mínimo na Flórida, que é o que ganham esses que Maduro ironizou, é de US$ 1.400 mensais”, disse no Twitter o técnico em petróleo Francisco Monaldi. “Na Venezuela, é de menos de US$ 6. Maduro destruiu o país e agora debocha de quem dá duro para sobreviver.”

“Maduro diz que os venezuelan­os no exterior lavam privadas, mas não diz que na Venezuela, graças a seu governo corrupto, nem os que têm os melhores empregos conseguem pôr comida na mesa”, tuitou Héctor Manrique.

Roberto Jimenez, advogado venezuelan­o que hoje vive em Miami, postou uma carta aberta a Maduro: “Sabe quanto eu ganho lavando privadas aqui? Eles me pagam US$ 4 por hora, o que dá US$ 32 por dia. No fim do mês, recebo o que nunca ganhei em toda a minha carreira de advogado na Venezuela.”

Jimenez termina a carta dizendo-se “um lavador de privadas venezuelan­o com os bolsos cheios, grato ao país que me dá oportunida­de de limpar sua sujeira, ao contrário do seu, que se afunda na própria merda”.

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