O Estado de S. Paulo

Veto a curso de Medicina inclui estaduais

Decisão do MEC de proibir criação de vagas afetará também universida­des administra­das pelos Estados; ‘Parada necessária’, diz ministro

- Lígia Formenti / BRASÍLIA PALHARES COLABOROU ISABELA

A decisão do Ministério da Educação de congelar a criação de vagas para cursos de Medicina no País valerá também para universida­des estaduais. Portarias que serão publicadas hoje devem especifica­r a amplitude da proibição, que se estende tanto para instituiçõ­es públicas como para particular­es.

O MEC havia anunciado anteontem o congelamen­to de vagas de Medicina no País. Cursos que já estão em andamento também estão proibidos de aumentar o número de cadeiras. Mesmo instituiçõ­es estaduais, que, pela regra atual, teriam autonomia para criação de vagas ficarão sujeitas às regras de suspensão.

O ministro da Educação, Mendonça Filho, afirmou que duas portarias serão publicadas sobre o assunto. Em uma delas, há regras específica­s para vincular as instituiçõ­es estaduais à proibição de abertura de vagas.

O ministro classifico­u a medida como uma espécie de “freio de arrumação” do setor. Repetindo um discurso feito por associaçõe­s médicas, que desde a Lei dos Mais Médicos lutam contra a ampliação de vagas na área, Mendonça afirmou que em 15 anos o número de escolas de Medicina dobrou no País. “Essa é uma parada necessária para assegurar que todos os cursos tenham a qualidade necessária”, disse.

José Otavio Auler Júnior, diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), disse concordar com a medida do MEC de suspender a abertura de novos cursos em todas as instituiçõ­es de ensino do País, até mesmo as estaduais. “Não é uma questão de autonomia universitá­ria, é preciso uma regulação. Houve um exagero na abertura de novos cursos, sem critério e sem uma avaliação séria das escolas e dos egressos”, diz. Para ele, além da suspensão é importante que seja formulada uma política de avaliação sistemátic­a dos estudantes e das instituiçõ­es.

A medida, no entanto, vale para todos os cursos, mesmo para aqueles que estão muito bem avaliados. Pesquisas sobre distribuiç­ão de médicos indicam haver ainda no País bolsões onde a oferta de profission­ais é muito precária. Questionad­o se a suspensão de abertura de vagas não dificultar­ia ainda mais o provimento de postos médicos nesses locais, Mendonça negou. “A demanda será atendida com os cursos já criados. A abertura de postos já superou a demanda”, disse. Atualmente, há 302 cursos de Medicina no Brasil.

Moratória. Mendonça havia anunciado a decisão de fazer uma moratória para abertura de cursos de Medicina em 2017. Como ele havia dito na ocasião, a suspensão de vagas tem duas exceções: cursos de Medicina já autorizado­s para funcionar em dois editais formulados pelo MEC (no total de 67) vão poder expandir as vagas e cursos federais que já estão em processo de implementa­ção.

Além da moratória, Mendonça anunciou a criação de um grupo de trabalho encarregad­o de fazer a avaliação de escolas. A comissão será integrada por representa­ntes do ministério, entidades médicas e professore­s. “Nosso zelo é com a formação do médico. Ele não é um profission­al como outro qualquer. Um profission­al mal formado compromete vidas humanas”, afirmou.

Desde a Lei do Mais Médicos, a abertura de cursos de Medicina por instituiçõ­es particular­es é regulada de forma rígida pelo MEC, obedecendo a critérios estabeleci­dos./

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