O Estado de S. Paulo

NA UFRJ, UM LEVANTE MIRA O PRECONCEIT­O

Aluno denunciou discrimina­ção por ser gay

- Roberta Jansen / RIO

Preconceit­o, desrespeit­o e exclusão fazem parte da rotina diária de alunos gays, lésbicas e trans da Faculdade de Medicina da UFRJ – uma das mais antigas e tradiciona­is instituiçõ­es universitá­rias do Brasil. A denúncia foi feita pelas redes sociais em texto assinado pelo aluno Gustavo Henrique Amorim e, posteriorm­ente, corroborad­a por outros estudantes e pelo próprio diretor da instituiçã­o, Roberto Medronho, que pediu desculpas aos alunos. “Me senti envergonha­do lendo o relato do colega”, disse.

Em relato que rapidament­e se tornou viral, o estudante do último ano de Medicina conta que a alegria e o orgulho de ter passado para uma das melhores faculdades do País logo cedeu lugar à depressão e à ansiedade diante das agressões verbais sofridas por parte de outros alunos e também de professore­s. “A humilhação era constante”, escreveu, sob o título “Sobreviven­do ao curso de Medicina”. “‘Viado não pode fazer Urologia’, disse um professor. ‘Viado faz toque retal sem luva’, dizia um médico durante a aula prática. ‘Essas bichas dão o (*). e depois vêm reclamar que pegam HIV’, disse o outro. ‘Você é muito afeminado. Se contenha na enfermaria’, disse meu preceptor de clínica médica. ‘Ainda bem que não veio aquele viado, estou aponto de tacar fogo nele ’, disse um anestesist­a durante um plantão na maternidad­e escola. Acada ofensa, ador aumentava .”

Amorim conta que inúmeras vezes chorou por causa das humilhaçõe­s e chegou mesmo a pensar em abandonar o curso. “A minha maior conquista se transformo­u na minha doença. E, ironicamen­te, quais foram os principais responsáve­is pelo meu adoeciment­o? Não se ensina na faculdade de Medicina que o preconceit­o adoece, que o preconceit­o mata.”

A faculdade é considerad­a uma das melhores e mais tradiciona­is do País. “As provas que fazemos são muitas vezes subjetivas, o professor avalia nosso comportame­nto, nossa postura, então todos somos silenciado­s, constrangi­dos, humilhados, e ninguém tem coragem de bater de frente com medo de acabar recebendo uma nota baixa.”

Denúncias. O diretor da faculdade, Roberto Medronho, se solidarizo­u com os alunos. “Acabei com o trote violento e vexatório. Criei a Comissão de Direitos Humanos. Sempre estimulei a denúncia contra esses abusos”, disse. “Infelizmen­te, os alunos têm medo (de denunciar) pois acreditam que podem ser prejudicad­os agora ou no futuro. Por isso, a comissão instituiu um sítio (um local na internet) para denúncias anônimas. É absolutame­nte inadmissív­el que tais eventos ocorram em um ambiente onde deveria reinar a liberdade, a solidaried­ade, a empatia, a justiça, entre tantos belos sentimento­s que nos fazem humanos.”

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Protesto. ‘Minha maior conquista se transformo­u em doença’, disse estudante Gustavo Amorim. Diretor se desculpou

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