O Estado de S. Paulo

Venezuelan­o chega com quase nada e apreensivo

Maior grupo foi para centro de acolhida; casal de refugiados ajuda conterrâne­os e emociona

- Fabiana Cambricoli Felipe Resk Juliana Diógenes

Transporta­dos por ônibus do Exército e escoltados por homens da PM e da Guarda Civil Metropolit­ana, os primeiros venezuelan­os acolhidos na capital chegaram ontem à tarde aos abrigos que serão seus lares nos próximos meses. O grupo de 104 imigrantes viajou de Boa Vista à cidade de São Paulo em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que pousou às 13h30 na Base Aérea de Guarulhos.

Após as cinco horas de voo, os imigrantes ainda tiveram de esperar mais duas horas para embarcar nos ônibus que os levariam a três abrigos da cidade, por causa de um atraso na retirada das bagagens. A chegada aos espaços ocorreu por volta das 16h30. O maior grupo, de 74 estrangeir­os, todos solteiros, foi para o Centro de Acolhida Temporária São Mateus, administra­do pela Prefeitura. Já os estrangeir­os que vieram em famílias foram encaminhad­os à Casa do Migrante, espaço ligado à Missão Paz, da Igreja Católica, e à Casa de Passagem Terra Nova, do governo estadual.

Blindados pelas forças de segurança e por membros da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), os imigrantes não quiseram falar com a imprensa, mas, segundo agentes que tiveram contato com eles, demonstrav­am um misto de medo e esperança ao chegar à maior cidade brasileira.

No CTA São Mateus, três viaturas da GCM faziam a segurança. O receio era que o tumulto registrado na noite anterior, quando moradores de rua atiraram pedras e feriram um GCM ao ter de deixar o espaço, se repetisse (mais informaçõe­s ao lado). Antes da chegada dos venezuelan­os, os guardas apreendera­m em flagrante dois adolescent­es por tráfico de drogas.

Crianças. Entre os refugiados, a situação mais vulnerável era a das famílias que chegaram com bebês pequenos – um deles, com 3 semanas de vida. Na bagagem, traziam apenas roupas e pertences de aparência antiga, evidencian­do a situação de escassez do país de origem.

Segundo o padre Paolo Parise, diretor da Missão Paz, um dos momentos mais emocionant­es na recepção dos imigrantes foi quando o grupo encontrou um casal de conterrâne­os que já vive há mais tempo no Brasil. “Quando eles falaram que já estavam empregados, morando em um apartament­o alugado, os recém-chegados ficaram com um olhar de esperança”, conta o padre.

O casal citado decidiu se mudar para o Brasil após um deles, o jornalista Carlos Daniel Barroso, de 34 anos, ser sequestrad­o e espancado por questões políticas. Ele se mudou em 2016. A mulher dele, a professora Marifer Vargas, de 36 anos, veio no ano seguinte. “Chegou um momento que era muito difícil ter que decidir quem da sua família iria comer”, relata ela.

Outro grupo de 82 venezuelan­os chegará hoje. Ao todo, a cidade deve receber 300 imigrantes. “Vamos organizar as ofertas de emprego”, diz o secretário de Assistênci­a Social, Filipe Sabará.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Chegada. Ônibus do Exército transporta­ram famílias de imigrantes do aeroporto a abrigos

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