O Estado de S. Paulo

China vai à OMC contra guerra de tarifas dos EUA

Sobrecarre­gado, órgão só deve decidir questão em dois anos; governo de Donald Trump acusa o país de criar distorções no mercado internacio­nal

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A guerra comercial entre as maiores economias do mundo chegou aos tribunais da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). Numa iniciativa ampla de questionam­ento da política comercial dos Estados Unidos, o governo da China atacou as novas barreiras impostas pela administra­ção de Donald Trump. A ação ocorre de forma paralela à decisão de Pequim de impor medidas de retaliação contra mais de 230 produtos americanos, incluindo soja, aviões e carros.

Também ontem, EUA, Europa e Japão lançaram um ataque contra as políticas de tecnologia da China, acusando o país de adotar medidas que criam distorções no mercado internacio­nal e favorecem as empresas locais no desenvolvi­mento de tecnologia de ponta. Na avaliação dos três governos, a China viola as regras de propriedad­e intelectua­l. Os novos casos prometem causar um acúmulo de processos num sistema que, diante da falta de juízes, já estava à beira da paralisia.

Diplomatas de Pequim apresentar­am dois casos à OMC. O primeiro se refere às tarifas impostas por Trump contra cerca de 1,3 mil produtos eletrônico­s, que afetariam um fluxo de comércio de US$ 50 bilhões.

No documento, obtido pelo Estado, o governo chinês alega que as medidas não se justificam e que as supostas investigaç­ões conduzidas pelo governo americano não foram transparen­tes nem objetivas.

O segundo processo é sobre a barreira criada pelo governo americano contra o aço chinês. Pequim alerta que as novas tarifas incrementa­das em 25% não se justificam como parte de um plano para assegurar a “segurança nacional” dos EUA.

A ação na OMC foi lançada depois que uma negociação entre americanos e chineses não chegou a acordo sobre um nível de compensaçã­o que exigia Pequim. O ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi, apelou à comunidade internacio­nal que haja uma “união para defender juntos o cresciment­o da economia mundial” contra as barreiras americanas.

“A comunidade internacio­nal deve se opor em seu conjunto a tais apões unilaterai­s e violações de regras”, disse. “Se os EUA pensam que podem ganhar com o protecioni­smo, estão enganados”, insistiu.

Para o governo americano, o caso aberto por Pequim na OMC “não tem base”. A Casa Branca afirma que as regras internacio­nais permitem que um governo descumpra suas tarifas, alegando questões de segurança.

Uma decisão da OMC sobre o caso, porém, só deve sair em

dois anos. Antes de partir para uma guerra comercial, a administra­ção de Trump minou os trabalhos do órgão de apelação da entidade, uma espécie de supremo tribunal do comércio. Hoje, a entidade que deveria ter sete juízes conta com apenas quatro, que acumulam milhares de páginas de queixas.

Em comentário nesta semana, o vice-diretor da OMC, Alan Wolff, admitiu que “os perigos colocados sobre os sistema comercial mundial são graves”.

“Se os Estados Unidos pensam que podem ganhar com o protecioni­smo, estão enganados.” Wang Yi

MINISTRO DE RELAÇÕES EXTERIORES DA CHINA

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REUTERS Restrição. O aço produzido na China foi sobretaxad­o pelos EUA sob alegação de proteção à segurança nacional do país

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