O Estado de S. Paulo

Cachorro Grande revive a crueza dos discos ao vivo

Com o disco ‘Clássicos’, gravado em São Paulo, banda gaúcha comemora os 18 anos; ‘mas sem DVD’, diz Beto Bruno

- Pedro Antunes

Beto Bruno, vocalista da Cachorro Grande, tinha uma ideia muito clara quando, em reunião com Marcelo Gross (guitarra), Rodolfo Krieger (baixo), Pedro Pelotas (teclado) e Gabriel Azambuja (bateria). “Eu queria um disco ao vivo”, conta o músico, “mas nada que fosse parecido com essa coisa careta de ter um show gravado, lançado com um DVD, com aquele som 5.1 e aquela caretice do c...”.

O que Bruno queria emular, com esse novo trabalho da Cachorro Grande, a suceder Electromod, lançado em 2016, era a sensação da fase de moleque viciado em discos, fissurado pelos registros ao vivo das bandas preferidas. Juntaram-se os guris da rua, ouviam reunidos os álbuns. A brincadeir­a era imaginar como agia cada um dos integrante­s no palco, enquanto o som produzido pelo percorrer da agulha no vinil era rude, grosso, não lá muito cristalino – uma sensação de preenchime­nto e quentura deixada de lado para a chegada da cristalini­dade do áudio do CD e, posteriorm­ente, DVD, mas de volta à moda graças ao retorno dos vinis ao gosto de quem consome música.

E assim, com essa memória afetiva, Bruno convenceu banda e escritório que cuida da carreira da Cachorro Grande que Clássicos, o álbum ao vivo lançado nesta sexta-feira, 6, e gravado em duas noites no Centro Cultural Rio Verde, em junho do ano passado, era o projeto certo depois da turnê do último e eletrônico álbum de estúdio do grupo. Depois de completar os 18 anos desde o primeiro disco – embora a banda beire a segunda década de existência –, chegou o momento de olhar para trás.

E, não só, também criar um show que não se fundamenta­sse em cima do repertório do disco mais recente. “Não gostamos de repetir o show em uma cidade, então era normal que cada nova apresentaç­ão trouxesse mais canções do trabalho mais recente, pro cara não pensar ‘pô, esse show eu já assisti’”, conta.

Com Clássicos, e a turnê que com nele se inicia, a Cachorro Grande mantém eternizada­s as versões dos seus principais sucessos espalhados pelos oito discos do grupo, na versão mais fiel ao que se vivencia quando se está diante da banda, em frente ao palco. “As pessoas sempre dizem que nossos shows são diferentes dos nossos discos”, avalia Bruno, “mas as pessoas não pagam para ouvir o show ao vivo.” Rindo, Bruno solta a realidade: “Até porque, nunca conseguimo­s tocar uma música duas vezes da mesma forma”.

A “curadoria”, palavra dita pelo vocalista com orgulho, “foi feita com base nas canções que eram mais relevantes de cada um dos discos”. O recorte vai desde a efervescen­te Sexperienc­ed, da estreia, a Electromod, numa versão mais suja do que a ouvida no álbum homônimo. A única participaç­ão especial é de Samuel Rosa, do Skank, em Sinceramen­te, uma das maiores doçuras dos enraivecid­os rapazes do Rio Grande do Sul, que, agora, têm sua raiva registrada em disco – e só, sem DVD e som limpinho demais.

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FERNANDO SCHLAEPFER Visual. Na promoção do disco, banda brinca com o ‘clássico’

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