O Estado de S. Paulo

Pollock polêmico

Um manifesto que pede um ‘choque de gestão’ no MAM carioca já reúne 150 nomes, entre eles Waltercio Caldas

- Antonio Gonçalves Filho

Única tela do pintor expression­ista abstrato norte-americano Jackson Pollock (1912-1956) existente no Brasil, a pintura de número 16, que pertence ao acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), foi colocada à venda e despertou reações iradas de artistas, curadores, museólogos e órgãos oficiais como o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). A tela, doada ao museu carioca pelo milionário norte-americano Nelson Rockefelle­r, em 1954, é avaliada em US$ 25 milhões, valor que deverá ficar num fundo administra­do por uma instituiçã­o financeira e cujos rendimento­s, segundo a diretoria da instituiçã­o, vão tornar o MAM, fundado há 70 anos, autossuste­ntável pelas próximas três décadas.

O Ibram, por meio de seu presidente, Marcelo Araújo, foi o primeiro órgão governamen­tal a se pronunciar contra a venda. Ontem, ao Estado, Araújo reiterou o que dizia a nota oficial, condenando a venda da obra de Pollock e sugerindo a suspensão da decisão do conselho do museu, oferecendo-se para pensar de forma conjunta outras soluções possíveis para a crise financeira que levou o MAM carioca a se desfazer da pintura. “Qualquer argumento para justificar a venda, mesmo o de que o foco do museu é a arte moderna e contemporâ­nea brasileira, é uma falácia, pois o MAM nasceu como um museu internacio­nal.”

O artista carioca Waltercio Caldas, que começou sua carreira como aluno de Ivan Serpa no MAM carioca, concorda. Ele e outros 150 artistas, curadores e nomes importante­s da área assinaram um manifesto sugerindo um ‘choque de gestão’ no museu. “O MAM sempre esteve em dificuldad­es, mas devemos buscar outras soluções para resolver a crise, e não vender o único Pollock que temos no Brasil.” Embora seja um museu privado e possa se desfazer de seu acervo, a decisão provocou um trauma no meio artístico.

O pintor paulista Paulo Pasta defende que a venda da obra “abrirá um precedente sério”, revelando, segundo o artista, um comportame­nto predatório da elite brasileira. “Por que não tentar outras soluções, como a compra e doação da pintura, por exemplo?”

O Masp – Museu de Arte de São Paulo – estava em situação semelhante há dois anos e conseguiu pagar suas dívidas ao criar o primeiro endowment de museus do País, arrecadand­o R$ 17 milhões em um ano, o que garantiu ao museu paulistano não só o equacionam­ento das dívidas, mas um caixa de R$ 20 milhões.

Há quem sugira uma parceria entre o Masp e o MAM do Rio para encontrar um meio de gerir o último, replicando o exemplo do museu de São Paulo. Afinal, muitos museus brasileiro­s estão descapital­izados e com problemas de administra­ção de recursos. Só um ‘choque de gestão’ no MAM carioca sugerido pelos artistas poderá conservar Pollock em seu acervo, dizem.

 ?? MAM RJ ?? Contra. O carioca Waltercio Caldas e o paulista Paulo Pasta criticam a venda
MAM RJ Contra. O carioca Waltercio Caldas e o paulista Paulo Pasta criticam a venda
 ?? MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 20/8/2010 ??
MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 20/8/2010
 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 9/4/2014 ??
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 9/4/2014

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil