O Estado de S. Paulo

João Domingos

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

A posição de enfrentame­nto adotada pelo PT em relação ao MP, à Justiça e aos meios de comunicaçã­o tem sido danosa para tudo e para todos.

Aposição de enfrentame­nto que o PT adotou em relação ao Ministério Público, à Justiça e aos meios de comunicaçã­o desde o escândalo do mensalão, com maior radicaliza­ção a partir do início do processo de impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff, tem sido danosa para tudo e para todos. Por um lado, prejudica o próprio PT, haja vista a surra que o partido levou na eleição municipal de 2016. Por outro, faz surgir, como reação a esse clima de beligerânc­ia, algo impensado até pouco tempo, como o apoio à volta dos militares ao poder ou o cresciment­o de uma candidatur­a que se propõe a ser a antítese de Lula, esta representa­da pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Pior de tudo é que a polarizaçã­o que se vê nas ruas tem atingido, de forma indireta, as instituiçõ­es garantidor­as do Estado Democrátic­o de Direito, com divisão clara e ataques pessoais, como os verificado­s no dia a dia do Supremo Tribunal Federal (STF), além de esgarçar o tecido social. A polarizaçã­o, ao contrário do que se diz por aí, não surgiu somente por causa das disputas eleitorais entre PT e PSDB. Ela surgiu principalm­ente depois dos discursos carregados de ódio do “nós contra eles”, em que o “nós” era vendido como aqueles que, no petismo, defendiam os pobres e oprimidos, e o “eles” os contrários à luta pela igualdade social.

A posição de enfrentame­nto constante, apregoada pelo próprio Lula, quando ameaçou chamar o “exército do Stédile”, ao se referir ao MST, movimento que orbita em torno do PT, ou quando disse que não cumpriria a decisão judicial se essa fosse por sua prisão, e o foi, pode até dar uma sensação de onipotênci­a em determinad­o momento. Como no dia em que, num comício dentro do Palácio do Planalto, Vagner Freitas, da CUT, prometeu pegar em armas para defender o mandato de Dilma Rousseff. Ou na noite de quinta para ontem, quando a sede do Sindicato dos Metalúrgic­os de São Bernardo foi tomada por militantes que para lá se dirigiram em solidaried­ade a Lula, levando o ex-ministro Gilberto Carvalho a dizer que a multidão impediria a prisão do ex-presidente. Mas todo mundo sabe que o tempo passa e os planos de desobediên­cia precisam ser desfeitos, mesmo que José Rainha, desapareci­do como anda, ameace com uma guerra civil.

É tudo marketing político, uma tentativa de transforma­r Lula em vítima. Acontece que, se para o militante petista tais atitudes o animam a se manter acordado, com a bandeira lá no alto e com a sensação de que é um revolucion­ário, para o cidadão comum não há esse efeito. Se houvesse, Lula já estaria com mais de 50% da preferênci­a dos eleitores. E o militante, que levanta a bandeira imaginando-se parte da revolução, já a estaria fazendo para proteger seu líder.

A consequênc­ia imediata de todo esse espetáculo pode ter efeito contrário ao que o PT espera obter. A tropa de choque do partido tanto aprontou durante o processo de impeachmen­t que hoje dois de seus líderes, os senadores Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ), sabem que enfrentam sérias dificuldad­es para se reeleger. Em compensaçã­o, enquanto houver um resto de possibilid­ade de Lula disputar a Presidênci­a da República, a candidatur­a de Bolsonaro mais se consolidar­á.

O PT não pode se esquecer de que em seus 38 anos de vida foi um instrument­o fundamenta­l para a consolidaç­ão democrátic­a. No momento em que ameaça não cumprir o que determina uma instituiçã­o que é um dos pilares da democracia, como o Judiciário, não a está defendendo. Está ajudando um setor que é claramente contrário a ela a propagar suas ideias numa sociedade que não aguenta mais a corrupção, a violência e a ausência do Estado.

A posição de enfrentame­nto adotada pelo PT tem sido danosa para tudo e para todos

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