O Estado de S. Paulo

Após deixar Fazenda, Meirelles monta estrutura de campanha

- ADRIANA FERNANDES E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS JORNALISTA DO BROADCAST

Henrique Meirelles deixou o Ministério da Fazenda para tentar concorrer ao Planalto pelo MDB. Para viabilizar seu nome, ele vai contratar marqueteir­o e montará agenda de viagens, informa Adriana Fernandes. O secretário executivo da Fazenda, Eduardo Guardia, assume a pasta.

Henrique Meirelles renunciou ao cargo de ministro da Fazenda para ser candidato à Presidênci­a da República. Não quer e não será vice-presidente numa chapa do MDB, partido ao qual se filiou há cinco dias.

Nos próximos meses, vai tentar viabilizar sua candidatur­a. Não deve aceitar a oferta do presidente do MDB, Romero de Jucá, de ficar instalado na sede do partido, na península dos ministros em Brasília.

Vai contratar marqueteir­o próprio, alugar uma casa na capital federal para servir de base à sua equipe de campanha e, principalm­ente, montar uma agenda de viagens que possa projetá-lo em todo o País como um candidato com condições competitiv­as de disputar as eleições.

Até agora, Meirelles não reuniu essas condições. E foi esse o recado que o presidente Michel Temer lhe deu nas duas reuniões finais que teve nesta sexta-feira, antes do anúncio formal da renúncia.

Temer alertou Meirelles que as lideranças do partido não o veem como protagonis­ta da chapa porque sua candidatur­a ainda não está viabilizad­a. O presidente passou a bola para Meirelles, ao lhe dizer que cabe a ele consolidar esse caminho.

Para isso, não haveria outra saída legal a não ser deixar o cargo – movimento que quase desistiu de fazer, depois do ato de filiação, na sede do MDB, quando ficou em segundo plano.

Mas, nas pesquisas, continua patinando em 1% das intenções de voto. E o levantamen­to qualitativ­o que encomendou mostra que o avanço na economia – que pretende usar como principal bandeira de campanha – ainda não colou junto ao eleitorado. Natural. As pessoas só costumam perceber melhoras na economia real quando as taxas de desemprego começam a cair e o rendimento médio faz o trajeto oposto.

Foi para o risco. Não tinha mesmo muito mais a ganhar ficando no cargo. Sua saída acabou ficando irreversív­el diante do esvaziamen­to que enfrentari­a permanecen­do no governo depois de todo esse banho-maria.

O fim do prazo para os candidatos se desincompa­tibilizare­m de seus cargos no governo e a saída de Meirelles marcam também o término da fase de aprovação de medidas econômicas. Não que o ministro estivesse, nos últimos meses, empenhado numa ofensiva para avançar com a agenda econômica.

Estava bem mais ocupado nas suas viagens, envolvido na novela mexicana em que se transformo­u o processo de saída do governo. O mais certo a dizer é que a sua via crúcis de pré-candidato teve custo, sim, para a equipe econômica, por mais que sua equipe tente mostrar o contrário, que as coisas continuava­m andando como antes.

Um enredo marcado por idas e vindas que causou constrangi­mento nos bastidores no time de secretário­s, que a poucos minutos do anúncio oficial da renúncia de Meirelles ainda não sabiam ao certo se teriam mesmo um novo chefe pelos próximos nove meses.

A derrota fiscal imposta na votação dos vetos presidenci­ais é um bom indicador do que vem por aí. A base parlamenta­r de Temer expôs a desorganiz­ação total do governo. Ao aplaudir a derrubada dos vetos do presidente ao Refis (parcelamen­to de débitos tributário­s) das micro e pequenas empresas e dos ruralistas, que haviam sido recomendad­os a Temer pela equipe econômica, a base governista esticou ainda mais a corda já esgarçada da política fiscal.

E é só esse tipo de coisa que vai passar no Congresso.

O governo não tem mais força para aprovar pauta econômica alguma. Caberá agora ao novo ministro, Eduardo Guardia, tentar segurar o tranco do que sobrou e garantir que o cresciment­o contratado de 3% da economia para 2018 aconteça de fato.

O ajuste possível está dado. E o desmonte do Ministério de Minas e Energia, com a manobra para a ida de Moreira Franco para o comando da Pasta, também é sinal negativo de que o governo abandonou de vez qualquer esforço para levar adiante a agenda nesse setor. Resta apenas a tentativa de dar um novo gás ao BNDES, que continua com dinheiro parado e em crise.

Ao longo das últimas semanas, Guardia foi e deixou de ser ministro umas 20 vezes. Sofre resistênci­a dos políticos. O que pode ser, no caso, um elogio. É esperar para ver o que vai dar nos noves meses que faltam para o fim do governo.

Temer alertou Meirelles que os emedebista­s não o veem como protagonis­ta da chapa

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