O Estado de S. Paulo

Novos confrontos em Gaza deixam 9 mortos

Isolamento. Manifestan­tes organizara­m protestos e queimaram pneus para atrapalhar ação de atiradores israelense­s, que desde a semana passada respondem a atos na fronteira; repressão com munição real deixou mais de 300 feridos a bala, segundo os palestinos

- GAZA

Moradores de Gaza organizara­m ontem protestos em que a queima de centenas de pneus foi usada como tática para atrapalhar a pontaria de atiradores do Exército israelense, que desde a semana passada reprime os atos perto da cerca que separa os dois território­s. Pelo menos 9 palestinos morreram e mais de 300 foram feridos a bala ontem, segundo o Ministério de Saúde de Gaza. O número total de mortos, desde a semana passada, chegou a 30.

Na operação de ontem, as tropas israelense­s tentaram dissipar a densa fumaça negra primeirame­nte com ventilador­es. A ideia não deu certo e foram então usados jatos de água.

O principal recurso israelense foram bombas de gás, mas também houve disparos com armas de fogo, tendo como alvo preferenci­al as pernas dos manifestan­tes. O uso de munição real contra os palestinos tem sido criticado pela ONU e por organizaçõ­es de defesa dos diretos humanos.

Mesmo em Israel, sua aplicação contra manifestan­tes que usam predominan­temente pedras e coquetéis molotov é contestada como estratégia, uma vez que colocou o país sob críticas da comunidade internacio­nal.

O jornal Haaretz, crítico do premiê Binyamin Netanyahu, publicou ontem análise na qual sustenta que o governo

não esperava repercussã­o negativa, em função do apoio crescente do governo americano e do balanço de forças entre EUA e Rússia no Conselho de Segurança da ONU, que impediu qualquer condenação aos massacres cometidos por Bashar Assad e pelos russos na Síria.

Israel alega que o uso de munição letal é legítimo para defender as barreiras que isolam o território palestino governado pelo grupo radical islâmico Hamas. Os israelense­s argumentam que a fumaça de ontem foi usada para permitir a militantes do Hamas atravessar a cerca para agredir militares e civis que vivem em comunidade­s próximas.

Os palestinos convocaram marchas para protestar contra o que chamam “Nakba”, ou catástrofe, a saída ou expulsão de 700 mil árabes, sete décadas atrás, durante a criação de Israel. Um dos manifestan­tes, Jalal Marzak, de 40 anos, disse que a queima de pneus foi um ato de desespero. Ele desrespeit­ou uma ordem da própria mulher para não participar dos protestos e deixou sua casa. “É ela ligando agora. Não vou atender. Estou com um problema grande”, afirmou.

Onda. Os protestos da semana passada reuniram mais de 30 mil manifestan­tes na fronteira e foram seguidos por uma semana de manifestaç­ões no território. O número de manifestan­tes ontem foi maior do que nos últimos dias, mas menor do que no início dos conflitos, no dia 30, quando 21 palestinos foram mortos por forças israelense­s. O Exército de Israel estimou o comparecim­ento de ontem em cerca de 20 mil.

Refugiados compõem a maior parte da população de 2 milhões de pessoas de Gaza, um enclave governado pelo Hamas, que clama pela destruição de Israel e é designado pelo Ocidente como organizaçã­o terrorista. Habitantes de Gaza, incluindo refugiados palestinos e seus descendent­es que buscam reconquist­ar suas casas onde hoje é Israel, montaram acampament­os com barracas a algumas centenas de metros dentro da cerca de 65 quilômetro­s que separa Israel da Faixa de Gaza.

Israel alega que pelo menos 10 das vítimas da semana passada eram militantes, 8 do Hamas. A Cisjordâni­a é governada pela Autoridade Palestina, ligada à Fatah, facção rival. Os dois grupos chegaram a anunciar um acordo para unificar o governo, mas não colocaram o plano em prática.

 ?? MAHMUD HAMS/AFP ?? Protesto. Palestinos queimam pneus para evitar tiros de Israel em Khan Yunis, na Faixa de Gaza
MAHMUD HAMS/AFP Protesto. Palestinos queimam pneus para evitar tiros de Israel em Khan Yunis, na Faixa de Gaza

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil