O Estado de S. Paulo

A força da Lava Jato

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Ao mandar para a cadeia um homem tão poderoso e influente como o chefão petista, a operação exibe um vigor que deixará preocupado­s muitos dos que ainda têm contas a acertar com a Justiça.

A ordem de prisão contra o ex-presidente Lula da Silva elevou a Lava Jato a um novo patamar. Ao investigar, processar, julgar, condenar e mandar para a cadeia um homem tão poderoso e influente como o chefão petista, a operação exibe um vigor que certamente deixará preocupado­s muitos dos que ainda têm contas a acertar com a Justiça em razão de envolvimen­to na rapinagem do Estado. Ao mesmo tempo, a Lava Jato atinge em cheio o coração do maior esquema de corrupção da história do Brasil, pois foi sob o governo de Lula da Silva que o PT e seus associados – ou, mais apropriada­mente, cúmplices – estruturar­am o assalto à Petrobrás e a outras estatais, transforma­ndo todos os contratos públicos em potencial fonte de recursos

para os partidos e para seus abonados caciques.

Recorde-se que o processo que resultou na condenação de Lula pode ser considerad­o marginal quando se levam em conta os bilhões de reais desviados no monumental escândalo da Petrobrás. O petista foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro por ter ocultado a propriedad­e de uma cobertura triplex num condomínio no Guarujá, recebida como propina paga pela OAS – uma das empreiteir­as aquinhoada­s com contratos no esquema do petrolão.

Pode-se dizer que o apartament­o foi apenas um mimo em agradecime­nto ao franqueame­nto da Petrobrás à pilhagem. Mas, a exemplo do que aconteceu com Al Capone, o célebre gângster americano que foi preso não em razão de suas inúmeras atividades criminosas, mas sim por sonegação de impostos, o caso do triplex, que rendeu a ordem de

prisão contra Lula, está muito longe de resumir o papel do ex-presidente no petrolão.

Não se pode perder de vista que tanto o esquema de corrupção no Congresso apelidado de mensalão como o que abriu os cofres da Petrobrás aos ladravazes associados ao governo petista faziam parte de um plano muito bem articulado de manutenção do lulopetism­o no poder.

No caso do mensalão, o então presidente Lula veio a público, em agosto de 2005, para se dizer “traído” por “práticas inaceitáve­is das quais nunca tive conhecimen­to”, referindo-se à compra de deputados para engrossar o apoio ao governo. Lula se disse “indignado”. Se já era difícil acreditar nas palavras do presidente naquela oportunida­de, o estouro do escândalo do petrolão, em 2014, tornou praticamen­te impossível admitir, mesmo por hipótese, que Lula não soubesse que, sob sua

Presidênci­a, a principal empresa brasileira estava entregue a saqueadore­s, entre os quais, principalm­ente, o PT. Mais do que isso: à medida que avançavam as investigaç­ões da Lava Jato, foi ficando cada vez mais claro que tal esquema só ganhou essa dimensão porque Lula da Silva o viabilizou. O triplex no Guarujá e outras gentilezas pagas por empreiteir­os camaradas – propinas que devem render novas e ainda mais pesadas condenaçõe­s a Lula – foram apenas a gorjeta, pois o grande prêmio que Lula queria era outro: transforma­r o Estado em propriedad­e do PT.

Com esse espírito, enquanto durou o mandarinat­o lulopetist­a, o céu parecia ser o limite para a tigrada, que tratou de aparelhar todas as instituiçõ­es para assegurar a tranquilid­ade dos operadores do grande arranjo liderado por Lula da Silva. Quando a Lava Jato ousou romper

essa formidável couraça, expondo ao País a roubalheir­a e levando os principais responsáve­is ao banco dos réus – entre os quais gente muito poderosa do mundo empresaria­l e político –, não se acreditava que essa ousadia fosse suficiente para atingir o Grande Líder. Mas esse dia, afinal, chegou – e os petistas mal escondem a decepção com os ministros do Supremo Tribunal Federal que, embora tenham sido nomeados por Lula e por Dilma Rousseff, votaram contra os interesses do ex-presidente – mas a favor do interesse público.

O desfecho do caso de Lula mostra que a Lava Jato, malgrado os exageros messiânico­s de alguns de seus integrante­s, dispõe de força suficiente para atingir o objetivo de fazer criminosos graúdos pagarem pelo que fizeram – mesmo que entre eles esteja aquele que se considera o mais importante brasileiro vivo.

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