O Estado de S. Paulo

Recuperaçã­o lenta

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Ocrescimen­to da produtivid­ade da economia brasileira em 2018 representa­rá uma mudança notável na tendência observada nos últimos seis anos. Entre 2012 e 2017, a produtivid­ade caiu 6,45%. A perda de eficiência da economia nesses anos, fortemente marcados pela recessão provocada pelos desmandos da política econômica e fiscal do governo Dilma Rousseff, foi calculada pela consultori­a Tendências, que projetou em 0,5% o aumento da produtivid­ade brasileira neste ano. Embora inegavelme­nte positiva, essa mudança deve ser vista com cautela. O aumento projetado é pequeno, claramente insuficien­te para repor as perdas acumuladas ao longo desta década. Além disso, em geral a melhoria estatístic­a da eficiência da economia brasileira não será fruto de investimen­tos planejados pelas empresas como parte de programas de modernizaç­ão de equipament­os ou de adoção de tecnologia­s e linhas de produtos e serviços mais atualizada­s, mas decorrerá sobretudo de decisões ou eventos provocados pela crise.

Como mostrou reportagem do Estado, um dos fatores da lenta recuperaçã­o da produtivid­ade é o que se chama de “darwinismo econômico”, isto é, o fato de que, na crise, empresas menos eficientes não conseguem sobreviver e as demissões atingem preferenci­almente trabalhado­res com baixa qualificaç­ão e treinament­o. No início da crise, a produção cai mais do que o nível de emprego, mas, com a persistênc­ia dos problemas, as empresas reduzem o quadro de pessoal, como observou o economista­chefe da Rio Bravo Investimen­tos, Evandro Buccini. Com a recuperaçã­o da economia, a produção volta a crescer, mas a resposta do mercado de trabalho é lenta, do que resulta o aumento da produtivid­ade. É o momento que o País atravessa.

Há, entre as empresas, aquelas que, para sobreviver­em na crise e estarem preparadas quando a economia voltar a crescer, investem na melhoria dos processos produtivos, reduzem custos e otimizam recursos. São ajustes que não implicam necessaria­mente a mobilizaçã­o de investimen­tos vultosos e dependem mais de decisões administra­tivas, comerciais e financeira­s corretas.

Mudanças no ambiente econômico igualmente contribuem para a melhora do rendimento e da eficiência do setor produtivo, e houve algumas relevantes no período considerad­o. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, que chegou a 10,67% em 2015, caiu para 2,95% no ano passado e continua em níveis muito baixos. A taxa básica de juros, Selic, passou de 10,50% ao ano no início de 2012 para 14,25% de julho de 2015 a outubro de 2016 e, na reunião de março do Comitê de Política Monetária do Banco Central, foi fixada em 6,5% ao ano. A reforma trabalhist­a, de sua parte, contribuiu para facilitar a contrataçã­o de mão de obra e para o aumento da eficiência do fator trabalho.

São condições relevantes para melhorar a competitiv­idade do produto brasileiro, mas que não tocam em problemas estruturai­s que mantêm o Brasil entre os países emergentes menos eficientes. O mais grave desses problemas é a baixa qualificaç­ão do profission­al brasileiro ou a insuficiên­cia de capital humano para sustentar ganhos rápidos de eficiência produtiva. Investimen­tos em educação não têm resultado em aumento correspond­ente da qualidade da formação profission­al dos brasileiro­s em idade de trabalhar. Num mundo em rápida e profunda transforma­ção decorrente das mudanças nos padrões de produção causadas pela evolução do conhecimen­to, essa deficiênci­a pode condenar o País a permanecer no fim da lista das economias eficientes. Programas de incentivo à pesquisa e desenvolvi­mento e à inovação têm sido anunciados com frequência, mas seus resultados práticos são escassos. Infraestru­tura inadequada e excesso de burocracia, entre outros fatores, igualmente compromete­m a eficiência produtiva.

São imensos, por isso, os desafios para o Brasil ganhar produtivid­ade de maneira consistent­e e rápida. Bons governante­s tornariam o problema menos grave.

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