O Estado de S. Paulo

Gilmar diz que colegas não têm ‘pedigree’

Ministro do STF ataca indicações de petistas para a Corte; ao comentar decisão do juiz Sérgio Moro, afirma que País vive ‘despotismo judicial’

- Celia Froufe ENVIADA ESPECIAL / LISBOA Rafael Moraes Moura Amanda Pupo / BRASÍLIA

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes afirmou ontem ao Estadão/ Broadcast que a ordem de prisão do juiz Sérgio Moro para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi “absurda”, porque havia espaço para novo recurso ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), e que faltou “pedigree” a ministros indicados por Lula para integrar o próprio Supremo.

Para Gilmar, a situação atual é de “despotismo judicial”. “Estamos vivendo uma ‘Prokuratur­a’”, disse em Lisboa. O termo russo refere-se ao período em que a então União Soviética (URSS) vivia sob subordinaç­ão do Soviete Supremo, o poder legislativ­o soviético.

Lula, conforme o ministro, está sendo vítima de sua própria obra, ao ter feito, entre outras coisas, más indicações para o Supremo. “Foram péssimas indicações para o Supremo. Pessoas que não eram conhecidas foram indicadas, não tinham formação, não tinham pedigree. Eram para preencher vagas como de simpatizan­tes do MST, de causas, de grupo afro, sem respeitar a institucio­nalização do País, por ser amigo de algum político”, afirmou.

Após a declaração, Gilmar disse a interlocut­ores que não queria agredir os colegas, mas fazer uma crítica mais ampla sobre os critérios escolhidos por presidente­s do PT para definir as indicações ao STF.

Dos 11 ministros que integram atualmente o Supremo, três foram indicados por Lula: Ricardo Lewandowsk­i, Dias Toffoli e Cármen Lúcia, que preside a Corte. Na sessão que analisou o habeas corpus, Lewandowsk­i e Toffoli votaram a favor do petista, enquanto Cármen negou, desempatan­do o julgamento em 6 a 5.

“A única coisa que me conforta é que toda essa crise que estamos vivendo é fruto de uma desinstitu­cionalizaç­ão criada pelo PT”, declarou ele, que participou nos últimos dias de eventos da área jurídica em Lisboa.

Lava Jato. Gilmar – indicado para o Supremo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – criticou o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que seriam “filhos de um cruzamento do PT com Luiz Francisco (Fernandes de Souza, procurador da República)”. “Eles armaram isso tudo. Criaram uma desinstitu­cionalizaç­ão. O aparelho que hoje existe, o mecanismo ou coisa do tipo, é este: delegado, procurador, juiz. São essas ações articulada­s e o Estado de Direito ameaçado”, afirmou ele.

Procurados para comentar as declaraçõe­s de Gilmar, os ministros optaram pelo silêncio. O Estado procurou os sete ministros indicados por Lula e Dilma Rousseff: além de Lewandowsk­i, Toffoli e Cármen Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.

Um ministro ouvido reservadam­ente disse que Teori Zavascki, indicado por Dilma e morto em 2017, “deve estar se revirando no túmulo”. Auxiliares do STF classifica­ram de “terrível” a fala de Gilmar, que já havia se envolvido em discussão com Barroso no plenário.

“Foram péssimas indicações (pelos governos petistas) para o Supremo. Pessoas que não eram conhecidas foram indicadas, não tinham formação, não tinham pedigree. Eram para preencher vagas como de simpatizan­tes do MST, de causas, de grupo afro, sem respeitar a institucio­nalização do País, por ser amigo de algum político” Gilmar Mendes

MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Supremo. Ministro Gilmar Mendes fez críticas às indicações para a Corte

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