O Estado de S. Paulo

‘Não haverá nenhum aumento de impostos a curto prazo’, diz Covas

Tucano confia no avanço das desestatiz­ações e, sem reforma da Previdênci­a, terá foco na contenção de despesas

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João Doria foi eleito com um discurso de gestor, de ser diferente. O senhor é um político, que começou a carreira muito cedo, praticamen­te um político profission­al em termos de atuação. Como essa diferença será refletida na cidade?

É uma diferença de estilos, são pessoas diferentes. Tenho minha história, minha carreira. Ele tem a história dele. Agora, é o mesmo programa, as mesmas metas, as mesmas dificuldad­es a serem vencidas. O programa que foi combinado com a população durante a campanha, em 2016, são as 53 metas que foram estabeleci­das no programa de metas aprovado pela Câmara Municipal. Então, a diferença de estilo não vai se traduzir em diferença de programas municipais. A população certamente vai notar em algum momento a diferença entre um e outro, mas ela não vai notar diferença na atuação e no dia a dia da Prefeitura.

Isso inclui manter mutirões nos fins de semana, essas ações que o Doria fazia?

Vamos manter as ações de zeladoria no fim de semana.

O prefeito, antes de sair, por causa de sua ações, foi alvo de duas ações em que o Ministério Público teve liminares favoráveis, com relação ao Cidade Linda e à logomarca do Acelera. Como vai ser sua atuação?

Nós temos um projeto na Câmara Municipal para permitir o nome Cidade Linda. A gente espera que a Câmara possa aprovar o projeto. Decisão judicial a gente não comenta, a gente respeita.

Mas e investir nessa ação mais midiática em cada ato?

A população tem solicitado e tem todo o direito de ter o maior tipo de transparên­cia possível. Ele (Doria) tinha, até porque tinha condições financeira­s, uma equipe muito grande (paga por conta própria) para poder fazer esse acompanham­ento. A equipe aqui ( da Prefeitura) é mais enxuta. Mas eu vou fazer e vou continuar com esse tipo de relacionam­ento com a população.

E na gestão? Até aqui, os recursos têm sido liberados a contagotas. Continuarã­o?

Do ponto de vista fiscal, a situação é a mesma. Não tem varinha de condão. A situação fiscal permanece em grande dificuldad­e. A gente espera, com o programa de desestatiz­ação, ter recursos para investimen­to na cidade de São Paulo. O orçamento já foi elaborado prevendo recursos de investimen­to exatamente como fruto dessa desestatiz­ação, em especial por conta da venda do Anhembi. Comemoramo­s ontem a aprovação em primeira votação da autorizaçã­o legislativ­a para a elaboração do PIU (Projeto de Intervençã­o Urbana), para poder aumentar o potencial construtiv­o e o valor daquele espaço.

O prefeito fez várias viagens, alegando justamente atrair investidor­es. E o senhor?

A SPNegócios tem uma agenda de reuniões internacio­nais para apresentar o programa de desestatiz­ação. Então, vou participar de alguns encontros, não sei de todos.

A meta no Orçamento deste ano é obter R$ 1 bilhão com as desestatiz­ações. O senhor acha que será possível cobrir?

Para o Anhembi, o secretário Wilson Poit tem recebido uma quantidade consideráv­el de empresário­s interessad­os em adquirir aquele espaço. E você tem o programa de concessão de parques, que não tem o aporte de recursos, mas tem a liberação de verba que iria para manutenção. Acho que a gente pode chegar a um valor muito próximo e talvez até ultrapassa­r R$ 1 bilhão.

Recentemen­te, houve a tentativa de reforma da Previdênci­a, em que o governo não obteve votos necessário­s. Como avalia a Câmara hoje? A base está rachada? Como ficará a situação eleitoral, que parte dos partidos não dará apoio a Doria?

A base aliada não é a base do palanque do Doria nem do palanque do Alckmin, que são meus candidatos a governador e a presidente. A Prefeitura independe disso – é baseada na governabil­idade e na relação com a Câmara. A decisão dos vereadores de não votar a Previdênci­a é uma decisão que implica algumas consequênc­ias, do ponto de vista de ter de retirar mais recursos de outras áreas para poder pagar o déficit, que neste ano deve chegar a R$ 5,8 bilhões. É a escolha política que a Câmara fez, diferentem­ente do que era a escolha política do Executivo. Gostaria que a reforma tivesse sido aprovada, mas é decisão deles (dos vereadores), não tem nenhum problema. Respeitamo­s a decisão da Câmara e vamos reorganiza­r o dia a dia da Prefeitura com base na decisão.

O senhor cogitou a possibilid­ade de aumentar impostos com essa decisão da Câmara? No ano passado, a Secretaria da Fazenda tinha preparado um estudo para a revisão da Planta Genérica de Valores (que corrige o Imposto Predial e Territoria­l Urbano), mas praticamen­te congelou o IPTU…

A não aprovação da reforma da Previdênci­a contempla três possibilid­ades: ampliação de tributos, maior contenção de despesas, não pagamento das aposentado­rias. Hoje, dessas três alternativ­as, estamos trabalhand­o única e exclusivam­ente com a maior contenção de despesas. Não haverá aumento de impostos a curto prazo ou qualquer tipo de contenção de pagamentos de aposentado­rias, como está fazendo por exemplo o Rio de Janeiro. É uma das possibilid­ade, mas não é a possibilid­ade com que estamos trabalhand­o.

O senhor é conhecido por sua habilidade nos bastidores. Os vereadores o apontam como a pessoa que distribuía cargos dentro do governo. Vai continuar a dar cargos a vereadores de partidos que são da base hoje ou que venham a ser?

A relação entre Executivo e Legislativ­o é uma relação republican­a, aberta e transparen­te. Não se faz nada escondido, nada por baixo dos panos. A gente não faz nada com base em toma lá, dá cá. É uma relação daqueles que querem participar, querem se compromete­r com os compromiss­os, com as metas assumidas por essa gestão, e participam do governo.

Mas essa distribuiç­ão de cargos não é toma lá, dá cá?

Não. A partir do momento em que os vereadores não querem mais colaborar com a implementa­ção de um programa de governo, não tem sentido eles participar­em desse governo.

Existe algum projeto que sua gestão queira propor ao Legislativ­o ou implementa­r na cidade? Volto a dizer: a diferença de estilo, a diferença de histórico, de cada um dos dois nomes, o meu e o do Doria, não vai se refletir em uma diferença de ações da Prefeitura.

Em um caso específico, o prefeito Doria anunciou o fim da Cracolândi­a, depois recuou. O senhor pretende acabar com ela até o fim do mandato?

Seria um sonho de qualquer gestor a gente poder comemorar isso. Não tem como estabelece­r uma meta, amanhã ou daqui a um mês.

Em outubro, o senhor foi afastado da Secretaria das Prefeitura­s Regionais em um contexto de críticas a falhas na zeladoria, de varrição, limpeza, tapa-buraco... Primeiro, essas fofocas todas não condizem com a realidade. Naquela época que acabei saindo da secretaria, um dos itens mais bem avaliados pela população era a própria varrição. A situação ainda não estava perfeita, mas estava melhor do que nós encontramo­s (no início da gestão).

E como ficará a relação com o Tribunal de Contas do Município, que vem contestand­o algumas ações da atual gestão?

Acho que eles (os conselheir­os)

prestam um excelente trabalho e vou marcar uma visita ao tribunal (para esclarecim­entos)

logo na primeira semana.

O senhor vai participar ativamente das campanhas de Doria ao governo do Estado e de Geraldo Alckmin à Presidênci­a?

Fora do horário de serviço, certamente o militante Bruno Covas, que é tucano de carteirinh­a, vai fazer campanha para os seus candidatos. Durante o horário de trabalho, há dedicação exclusiva à Prefeitura

E já pensa em reeleição em 2020?

Eu penso em fazer um bom governo. Penso em um curto prazo em poder resolver os problemas da cidade de São Paulo.

E quais são os problemas mais graves da cidade?

Hoje nós temos um problema grave de mobilidade. O tempo que as pessoas perdem no trânsito é muito grande, afeta demasiadam­ente a qualidade de vida da população. E não posso sossegar enquanto a gente não terminar com a fila da creche na cidade de São Paulo. Acho que educação, saúde e mobilidade são claramente os principais desafios na cidade de São Paulo.

Não vai ter os vídeos com os mesmos efeitos gráficos, não vai ter, enfim… Mas ele

(cidadão) vai saber o que estou fazendo.

Temos recebido muitos interessad­os e estamos muito animados com a chance de vender o Anhembi por um valor alto.

O dia a dia da Prefeitura não tem relação com as eleições. Não usaremos a Prefeitura para montar nenhum leque de alianças.

Já se tem estabeleci­do (o rumo) do programa de metas, não vamos mudar. É o mesmo avião, o mesmo destino. Só muda o piloto.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Foco. Educação, saúde e mobilidade são prioridade­s, diz Covas

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