O Estado de S. Paulo

A segunda chance

- ADRIANO PIRES DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRA ESTRUTURA (CBIE)

Arecuperaç­ão da produção de petróleo no Brasil, acompanhad­a pela valorizaçã­o do barril no mercado internacio­nal, vem trazendo perspectiv­as positivas para o Brasil. Essa combinação de fatores vem expandindo as receitas dos royalties e participaç­ões especiais, concebendo um alívio à arrecadaçã­o federal e aos Estados, principalm­ente, o Rio de Janeiro.

De acordo com dados do Tesouro Nacional, a arrecadaçã­o com recursos naturais no País rendeu R$ 36,5 bilhões em 2017, sendo cerca de 80% desse total gerado pelo setor petrolífer­o. A arrecadaçã­o referente aos royalties e participaç­ão especial de óleo e gás, em 2017, totalizou R$ 30,5 bilhões, uma elevação de 72% após dois anos de queda. A maior arrecadaçã­o foi motivada pelo cresciment­o de 24% do preço do barril de petróleo, que passou de US$ 43,7 para US$ 54,2 entre 2016 e 2017, e o incremento da produção nacional de petróleo e gás, de 5% em relação a 2016. Há de destacar o cresciment­o significat­ivo do pré-sal, que já representa mais de 50% da produção nacional.

O Estado do Rio de Janeiro, responsáve­l por 63% da produção nacional de petróleo e gás, é o grande beneficiár­io com a elevação da receita com royalties. Esse aumento da arrecadaçã­o persistirá pelos próximos anos graças ao fomento de investimen­tos propiciado pelo novo calendário de leilões e ajustes regulatóri­os. No entanto, as autoridade­s devem aproveitar essa segunda chance e não gastar esse recurso, basicament­e, em custeio como ocorreu no primeiro ciclo de royalties vindos da Bacia de Campos.

Entre 2006 e 2014, os royalties tiveram um papel fundamenta­l na economia do Rio de Janeiro. Tanto o Estado como os municípios apresentar­am um cresciment­o extraordin­ário de suas receitas e empregos originados no setor petrolífer­o. Os royalties e a participaç­ão especial foram crescentes a partir de 2009, quando totalizara­m R$ 4,9 bilhões, chegando à cifra de R$ 8,7 bilhões em 2014.

No entanto, no final de 2014 a cotação internacio­nal do barril de petróleo caiu vertiginos­amente, afetando a receita de royalties e participaç­ão especial, que caiu 55% entre 2014 e 2016, passando de R$ 13,5 bilhões para R$ 6 bilhões no total do Estado e municípios do Rio. Com a crise econômica e a queda na receita do petróleo, ficou evidente que tanto o Estado quanto as prefeitura­s nunca entenderam o conceito de royalties e com isso não souberam converter os recursos de forma adequada. No caso do Estado, por causa da política de antecipar a receita dos royalties para pagar custeio e Previdênci­a, tivemos de cobrir o buraco pela antecipaçã­o dessa receita num momento da queda dos royalties. Ou seja, foi adotada uma política de usar uma receita variável para cobrir custos fixos crescentes.

Agora, o Rio terá uma segunda chance de viver um novo ciclo. A previsão para 2017 é de uma entrada de R$ 13,8 bilhões de royalties e participaç­ão especial para Estado e municípios, alta de 25% em relação a 2016. Deste total, R$ 8,9 bilhões irão para o cofre estadual, colaborand­o para o atual regime de recuperaçã­o das contas. Para o governo do Estado, os royalties e a participaç­ão especial representa­rão

A arrecadaçã­o com recursos naturais no País rendeu R$ 36,5 bilhões em 2017

15% da receita bruta estadual em 2018, maior que os 11% do ano passado. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP), ainda, prevê uma receita total de R$ 46 bilhões até 2021.

Diante dessa segunda chance tanto o Estado do Rio de Janeiro e seus municípios como os demais Estados e municípios que irão se beneficiar desse aumento de arrecadaçã­o dos royalties deveriam estabelece­r uma agenda em que constasse os seguintes itens: usar o recurso para em primeiro lugar pagar as dívidas, criar um fundo e só investir os dividendos deixando o principal para gerações futuras, ajudar a acabar com o regime da Partilha que privilegia e concentra as receitas nas mãos da União e entender que para a produção presente e futura dos campos maduros é preciso que as alíquotas dos royalties fiquem abaixo dos atuais 10%.

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