EUA podem perder mercado para o Brasil
Em 1.º de abril, a China anunciou que passará a tarifar 128 produtos americanos, incluindo o porco, em resposta às tarifas propostas por Donald Trump sobre o aço e o alumínio. Dias depois Trump decidiu estabelecer taxas sobre US$ 50 bilhões adicionais de produtos chineses, citando roubo de propriedade intelectual, o que levou os chineses a estabelecerem novas tarifas de 25% sobre a soja e outros produtos exportados pelos Estados Unidos.
Horas depois da decisão chinesa, os preços futuros da soja caíram 4%, para US$ 9,97 o bushel. Esse preço se aproxima do ponto em que os ganhos se equilibram com as despesas, disse Arlan Suderman, economista chefe da INTL FCStone.
As perspectivas no longo prazo são ainda piores. Embora na quinta-feira os preços da soja tenham subido, continuavam ainda com uma perda de 20 centavos de dólar. E, mesmo que se estabilizem, as tarifas irão corroer a fatia de mercado chinês dos fazendeiros americanos, afirma Wallace Tyner, economista da Purdue University. Segundo ele, em três a cinco anos, Brasil e Argentina substituirão os Estados Unidos nas exportações de soja para a China – o Brasil já é o maior exportador do produto para os chineses. Isso vai obrigar os agricultores americanos a mudarem para cultivos menos lucrativos, como milho ou trigo.
Dave Walton, outro agricultor que cultiva soja, mas também cria gado em Iowa, não está seguro de que sua fazenda suportará o estresse. “Se isso durar muito tempo, muitos amigos e vizinhos vão se retirar. E se durar alguns anos, nós mesmos não vamos aguentar”, afirmou. Walton também votou em Trump. Uma pesquisa encomendada pelo website Agri-Pulse indica que muitos agricultores votaram no presidente.
Na quarta-feira, a Associação Americana de Soja, que doou centenas de milhares de dólares aos republicanos, emitiu um comunicado em termos duros, criticando o governo por não “discutir com a China de maneira construtiva”.
Por outro lado, uma coalizão não partidária, Farmers for Free Trade, colocou anúncios na TV em programas que Trump costuma assistir, insistindo para o governo reavaliar sua política com relação à China e mostrando os agricultores que votaram no presidente. /
Saída “Se isso durar muito tempo, muitos amigos e vizinhos vão se retirar. E se durar alguns anos, nós mesmos não vamos aguentar.” Dave Walton PRODUTOR DE SOJA DE IOWA