Meirelles deixa a Fazenda para tentar disputar Presidência
Recém-filiado ao MDB, ele não tem, porém, garantia de que será o candidato do partido; Eduardo Guardia assumirá o ministério
Depois de meses de ensaio, Henrique Meirelles anunciou ontem sua saída do Ministério da Fazenda para tentar disputar a Presidência da República neste ano. Ele não confirmou sua candidatura, porém, porque ainda disputa a preferência do MDB, partido ao qual se filiou esta semana, para ser cabeça de chapa nas eleições de outubro.
Por enquanto, o principal nome do partido para a disputa é o do próprio presidente Michel Temer. O secretário executivo do ministério, Eduardo Guardia, assumirá a titularidade da Fazenda na segunda-feira.
Considerado mais “linha dura” que Meirelles nas negociações com o Congresso, Guardia não participou da entrevista coletiva convocada pelo ministro demissionário ontem. Meirelles explicou que caberá apenas a seu sucessor a escolha, na próxima semana, do novo secretário executivo do Ministério, o que pode levar a um remanejamento em outras secretarias da Fazenda. A nomeação de Guardia como substituto de Meirelles ficou indefinida desde o início das negociações. Favorito do ministro, ele encontrava resistências na área política.
Antes de anunciar a saída da Fazenda, Meirelles esteve ontem duas vezes com Temer. Na primeira, pela manhã, no Palácio do Planalto, disse ter comunicado a decisão de deixar a pasta, embora só tenha feito o anúncio no meio da tarde. A segunda reunião foi na residência oficial, o Palácio do Jaburu, para insistir na indicação de Guardia como seu sucessor.
“O presidente garantiu que o novo ministro Guardia terá apoio para que a política econômica não se perca”, disse. “É preciso perseverar e insistir nas políticas que estão dando certo”.
Entre as primeiras tarefas que Meirelles deixa ao sucessor está o Orçamento de 2019. Há risco concreto de descumprimento da chamada “regra de ouro”. Prevista na Constituição, a norma impede que o governo emita dívida para pagar despesas correntes, como salários. O governo espera um aval do Tribunal de Contas da União (TCU) para tentar amenizar o rombo previsto para 2019.
Caberá a Guardia apresentar propostas como a de mudança no regime de cobrança do PIS/Cofins e negociar o processo de privatização da Eletrobrás. Doutor em Economia pela USP, Eduardo Refinetti Guardia foi secretário do Tesouro Nacional no governo Fernando Henrique Cardoso, secretário de Fazenda do Estado de São Paulo e secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Também foi diretor executivo de Produtos da BM&FBovespa (atual B3).
Candidatura. O prazo limite para que postulantes a candidaturas se desincompatibilizem de cargos públicos termina hoje. De todos os ministros que pretendem disputar as eleições, apenas Meirelles ainda não havia sido exonerado.
Disposto a não ser o vice na chapa do MDB, ele voltou a enfatizar, na entrevista de ontem, que só assumirá uma candidatura à Presidência da República, embora tenha buscado um tom contemporizador. “Não pretendo ser candidato a vice-presidente e não há a menor possibilidade de me candidatar a governador ou senador.”
Ele não fixou uma data para anunciar se será de fato o candidato do MDB à Presidência. Meirelles evitou confrontar a posição do presidente, que também tem interesse em ser o candidato do partido. O ex-ministro reconheceu não ser muito conhecido pela população, mas alegou ter um nível elevado de aprovação entre as pessoas que conhecem o seu trabalho.
Desafio “O presidente garantiu que o novo ministro Guardia terá apoio para que a política econômica não se perca. É preciso perseverar e insistir nas políticas que estão dando certo.” Henrique Meirelles EX-MINISTRO DA FAZENDA