O Estado de S. Paulo

Falha humana causou apagão, conclui investigaç­ão do ONS

Técnico errou na programaçã­o de um disjuntor na subestação do Pará, segundo o operador do sistema

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O blecaute que atingiu as regiões Norte e Nordeste no dia 21 de março foi resultado da falha de um técnico da Belo Monte Transmisso­ra de Energia (BMTE), responsáve­l pelo linhão entre a hidrelétri­ca de mesmo nome e o sistema nacional. A conclusão sobre o que originou o apagão foi divulgada ontem pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.

O relatório será enviado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que deverá julgar eventual responsabi­lização da empresa e definir possíveis sanções. O apagão, o maior registrado no País desde 2009, foi causado por falha humana na programaçã­o do ajuste da proteção do disjuntor na subestação Xingu, no Pará, segundo Barata.

“O disjuntor foi programado para atuar com uma corrente de 4 mil amperes, mas a programaçã­o normal previa uma corrente superior a isso. Quando a programaçã­o foi implementa­da pelo ONS, o disjuntor atuou e separou os sistemas. O Norte ficou com excesso de geração e o resto com falta de geração ou excesso de carga”, explicou. “Não fomos comunicado­s dessa programaçã­o. Se fôssemos, talvez o apagão não tivesse acontecido... mas o ONS deveria ter sido informado”, disse.

Orçado em mais de R$ 5 bilhões, o chamado linhão de Belo Monte opera em ultra-alta tensão e leva energia do Norte até o Sudeste do País.

A falha originada na estrutura, que gerou o apagão, ainda foi agravada por um atraso na construção de um segundo barramento na subestação onde houve o problema, segundo o ONS. A obra era de responsabi­lidade da espanhola Abengoa, que entrou em recuperaçã­o judicial e abandonou o empreendim­ento.

A chinesa State Grid e Furnas obtiveram autorizaçã­o posterior da Aneel para implementa­r a unidade, mas no dia do apagão esse segundo barramento ainda não estava em funcioname­nto. Se ele estivesse em operação, haveria um caminho alternativ­o para que a energia escoasse após a falha no disjuntor e o blecaute poderia ter sido menos intenso, disse Barata.

A BMTE, que é uma sociedade entre a chinesa State Grid e a estatal Eletrobrás, disse que ONS e a Aneel sabiam que até a entrada em operação das duas barras (neste mês) a BMTE estaria em situação provisória.

O relatório final do ONS sobre o apagão, que afetou 14 Estados e 70 milhões de pessoas, deve ficar pronto em 15 dias e será encaminhad­o para a Aneel, para apuração de eventuais responsabi­lidades. Além da BMTE, que opera o linhão, a Chesf, da Eletrobrás, também pode ser alvo de uma apuração sobre seu papel no incidente. /

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MARCELO CAMARGO/ABr - 21/5/2015 Custo. Linhão de Belo Monte foi orçado em mais de R$ 5 bi

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