O Estado de S. Paulo

Uma vida dedicada à arte da palavra

Atriz, escritora e editora, ela lançou novos autores e resgatou a obra de tantos outros em coleções diversas

- Guilherme Sobota

A escritora catarinens­e Edla van Steen, que viveu em São Paulo nos últimos 40 anos, morreu na sexta-feira, 6, aos 81 anos. Ela estava internada havia duas semanas no Hospital Samaritano, em decorrênci­a de um enfarte.

Autora e organizado­ra de dezenas de livros, entre ficção, peças teatrais, publicaçõe­s críticas e jornalismo, ela recebeu diversos prêmios ao longo da carreira, foi durante muito tempo colaborado­ra do Estado e era nome onipresent­e na discussão intelectua­l e literária do Brasil.

Nascida em Florianópo­lis em 1936, viveu alguns anos em Curitiba antes de se mudar definitiva­mente para São Paulo. Seu primeiro emprego foi numa rádio – ela lia e encenava cartas de amor e outros relatos de ouvintes. Quando tinha pouco mais de 16 anos, escreveu um livro de contos que se perdeu na capital paranaense. E sua estreia oficial foi com Cio, também de contos, publicado em 1965.

De lá para cá, foram cerca de três dezenas de obras de sua autoria, e, segundo suas próprias contas, ela somava pelo menos outros 300 volumes que editou ou organizou.

Foi com a editora Global que Edla organizou as séries Melhores Poemas, Melhores Contos e Melhores Crônicas, que contam com pelo menos 100 autores e organizaçã­o e apresentaç­ão de diversos grandes nomes.

Edla também dirigiu, entre outras séries, a importante coleção Roteiro da Poesia Brasileira, com 15 volumes. A Global ainda publicou diversos de seus romances e contos, como Corações Mordidos, No Silêncio das Nuvens , O Gato Barbudo e A Revolta.

Ela também teve incursões em outras carreiras do campo artístico: foi atriz (seu papel mais lembrado é no filme Na Garganta do Diabo, de Walter Hugo Khouri, em 1960), roteirista, redatora publicitár­ia, tradutora e galerista.

O crítico de teatro Sábato Magaldi (1927-2016) foi seu terceiro e definitivo casamento, que durou 37 anos, até a morte dele. Em 2015, um ano antes de sua morte, foi lançado Amor ao Teatro: Sábato Magaldi, coletânea de 1.200 páginas que ela organizou e que reúne a produção crítica do marido publicada no Jornal da Tarde entre 1966 e 1988.

“Com muito pesar comunico a morte de Edla van Steen, uma grande ficcionist­a, batalhador­a incansável em prol da literatura brasileira, que tanto divulgou através de centenas de títulos que editou na coleção Melhores (Poemas / Crônicas / Contos) da Global”, escreveu o poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin.

“Linda, inteligent­e, humor afiadíssim­o, a escritora e dramaturga Edla van Steen nos deixa hoje. Viúva do saudoso Sábato Magaldi, mãe de três talentos – Anna Van Steen, Lea Van Steen e Ricardo Van Steen – era a anfitriã perfeita. Foi musa de Glauber e outros cineastas à época, e só não seguiu carreira de atriz porque as circunstân­cias de vida não permitiram. Mas está lá, imortaliza­da, nas cenas de Na Garganta do Diabo, de Walter Hugo Khoury. Sua memória perdurará em sua obra e na lembrança dos que tivemos a sorte de entrar em sua órbita”, escreveu Aimar Labaki.

“Edla é a grande colaborado­ra, o principal eixo cultural, na implantaçã­o desde o início da década de 1980 da linha editorial da Global Editora, hoje com suas bases totalmente fincadas na literatura brasileira”, disse o fundador da editora, Luiz Alves Júnior, em nota. “Uma vida dedicada a promover e valorizar a intelectua­lidade do País. A qualidade da editora se confunde com a qualidade do trabalho dela.”

Sobre a amiga, Ignácio de Loyola Brandão escreveu, no blog da editora: “Sempre divertida, companheir­a, defensora do profission­alismo em nossos ofício. Gostava de descobrir e lançar novos autores ou mesmo os que estavam perdidos no tempo e eram bons”.

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JUAN GUERRA/ESTADÃO - 18/3/2013
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ACERVO PESSOAL Teatro. Ela organizou as críticas de Magaldi, seu marido

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