E o seu primeiro sonho foi o de ser uma cantora
Edla van Steen sonhou primeiro em ser cantora. Depois, arriscou a carreira como atriz – e foi prontamente reconhecida e premiada por sua atuação no filme de Walter Hugo Khouri, Na Garganta do Diabo. Teve diante de si inúmeras possibilidades. Mas foi às letras que a catarinense dedicou a maior parte de sua vida.
Os muitos prêmios que a intelectual recebeu ao longo de sua trajetória dão uma boa ideia da amplitude de sua atuação. Teve reconhecidos romances como Madrugada (1992), vencedor do Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras; seletas de contos, caso de Cheiro de Amor (1996), reconhecido pelo Prêmio Nestlé; e obras teatrais, como O Último Encontro (1989), sua primeira peça encenada logo saudada com o Molière e o APCA de melhor autor.
Na ficção, a morte foi tema constante. Suas personagens eram quase sempre mulheres frustradas, maltratadas pela vida, que ainda acreditavam na possibilidade de construir laços. Foram quase 30 títulos publicados, que também incluíram coletâneas de entrevistas, histórias infantojuvenis e biografias, como a que fez da atriz Eva Wilma. Teve ainda quatro livros publicados nos EUA: Village of the Ghost Bells, A Beg of Stories, Early Morning e Scent.
“Não tenho outros passatempos, pois amo a leitura; estou rodeada de palavras por todos os lados”, comentou em entrevista à Agência Estado, em 2001. Definia-se como “grafomaníaca”, epíteto que recebeu do amigo e também escritor Otto Lara Resende. De fato, sua relação com os livros extravasava a própria produção literária e se expandia em outras tantas direções. Grande incentivadora da literatura brasileira, ajudou a publicar mais de 300 títulos como diretora da Global Editora. Destacaram-se suas coleções de crônicas e poemas, áreas nas quais dizia sentir mais dificuldade de atuar e estava, portanto, muito à vontade para destacar o talento alheio.
Também para divulgar a produção do País, reuniu contos de autores nacionais, como Nélida Pinõn e Rubem Fonseca, em uma coletânea que foi lançada em inglês, Love Stories (1978) e, em 1992, quando morava na França, levou diversos escritores brasileiros para participar de feira literária em Paris.
Assim como Sábato Magaldi, com quem foi casada por 38 anos, Edla era grande incentivadora da dramaturgia nacional e acreditava que o problema não estava propriamente na falta de bons autores, mas nas dificuldades de distribuição e nas falhas dos mecanismos de incentivo. Prova de sua devoção ao teatro são também suas muitas traduções de peças, quase sempre de autores como Chekhov, Ibsen e Molière.
Recentemente, Edla dedicou-se a organizar a obra monumental de Sábato Magaldi. Em 2016, lançou Amor ao Teatro, compêndio de mais de 1.200 páginas, que reuniu 783 críticas teatrais do autor publicadas no ‘Estado’ e no ‘Jornal da Tarde’, entre 1966 e 1988.