O Estado de S. Paulo

No último ato, ataques contra MP e Judiciário

Ex-presidente diz que seu julgamento na Corte foi ‘subordinad­o’ à opinião pública

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Em discurso horas antes da prisão, feito num carro de som no Sindicato dos Metalúrgic­os, Lula criticou a Lava Jato, o Judiciário e a imprensa. Disse ainda que se mantém na disputa presidenci­al e sairá da prisão “mais forte e inocente”.

No discurso feito ontem em um carro de som no Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, em São Bernardo do Campo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, criticou a operação, o Judiciário e a imprensa. Afirmou que se mantém na disputa presidenci­al e, ao pedir a união da militância, falou em “ocupações” e em “queimar pneus”.

Judiciário. “Qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinad­o à imprensa. Porque no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na sociedade, na imagem das pessoas e depois os juízes vão julgar e vão dizer ‘eu não posso ir contra a opinião pública porque a opinião pública tá pedindo pra cassar’. Quem quiser votar com base na opinião pública (que) largue a toga e escolha um partido político e vá ser candidato. Eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai votar. Nos Estados Unidos termina a votação e você não sabe em quem o cidadão votou exatamente para que ele não seja vítima de pressão.”

Ministério Público. “A antecipaçã­o da morte da Marisa (Letícia, ex-primeira-dama) foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Eu tenho certeza (...) E a história, daqui a alguns dias, vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo.”

Prisão. “Eu vou atender o mandado, porque quero fazer a transferên­cia de responsabi­lidade. Eles acham que tudo que acontece neste País acontece por minha causa (...) Eles agora querem me pegar numa prisão preventiva, que é mais grave, porque não tem habeas corpus. O Marcelo Odebrecht gastou R$ 400 milhões e não teve habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão.”

‘Ocupações’. “Eles têm que saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligent­es que eu, e poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas, fazer as ocupações no campo e na cidade. Parecia difícil a ocupação de São Bernardo, e amanhã vocês vão receber a notícia que vocês ganharam o terreno que vocês invadiram.”

‘Fuga’. “Eu estava no Uruguai, e as pessoas diziam assim para mim: ‘Lula, você dá uma voltinha ali, é só atravessar a rua, finge que vai comprar um uisquezinh­o, e você está no Uruguai junto com o Pepe Mujica. Vai embora e não volta mais, pede asilo político’. ‘Ô Lula, você pode ir na embaixada da Bolívia, embaixada do Uruguai’. ‘Ô Lula, vai na embaixada da Rússia’. Eu falei: eu não tenho mais idade para isso. A minha idade é enfrentálo­s e eu vou enfrentar aceitando cumprir o mandado.”

Eleição. “Eu acho que tanto o TRF-4, quanto o Moro, a Lava Jato, eles têm um sonho de consumo (...) O golpe só vai concluir quando eles conseguire­m convencer que o Lula não possa ser candidato a presidente em 2018. Não é que eu não vou ser, eles não querem que eu participe porque existe a possibilid­ade de cada um se eleger (...) Eu vou sair desta maior, mais forte, mais verdadeiro, e inocente.”

Lava Jato. “O que eu não posso admitir é um procurador que fez um PowerPoint e foi pra televisão dizer que o PT é uma organizaçã­o criminosa que nasceu para roubar o Brasil e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, é o chefe, e, portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador, ‘eu não preciso de provas, eu tenho convicção’. Eu quero que ele guarde a convicção deles para os comparsas deles, para os asseclas deles.”

Imprensa. “Outro sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Eu fico imaginando o tesão da Veja colocando a capa minha preso, o tesão da Globo colocando a minha fotografia preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos (...) Eles têm de saber que nós vamos fazer, definitiva­mente, uma regulação dos meios de comunicaçã­o para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia.”

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