Jornalistas são agredidos por militantes
Ao menos seis profissionais foram hostilizados por manifestantes pró-Lula; entidades dizem se tratar de ataque à liberdade de imprensa
Pelo menos seis repórteres foram agredidos ou ameaçados ontem, Dia do Jornalista, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Na véspera, outros três casos de agressão e hostilidade contra a imprensa foram registrados pela associação no local, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, permaneceu por mais de 25 horas após a decretação de sua prisão. A saída do petista do local foi marcada por momentos de tensão.
Por volta das 15h30, a repórter da TV Band Joana Treptow levou um tapa durante uma transmissão ao vivo. No Twitter, ela disse que foi hostilizada várias vezes. À noite, relatou que teve que deixar o local. “Fui obrigada a tal”, escreveu.
Cerca de uma hora depois, a repórter Gabriela Mayer, da rádio BandNews, foi cercada e levou um tapa na barriga. Segundo a Abraji, uma mulher tentou tirar o celular da jornalista à força.
Uma equipe da RedeTV News também foi agredida e acossada durante a cobertura sobre a prisão de Lula. O repórter Igor Duarte, o cinegrafista Ricardo Luiz e o assistente Everaldo Guimalhães tiveram de interromper a reportagem ao serem chamados de “golpistas”. Em seguida, militantes atiraram copos, latas e água na equipe.
Outros dois profissionais registraram hostilidades no fim da tarde. A rádio Jovem Pan afirmou que o repórter Caio Rocha foi intimidado e impedido de continuar uma transmissão ao vivo por manifestantes. Bruna Barboza, da Band, disse que foi cercada e chamada de “fascista”, “elite branca” e “mídia golpista”. “Difícil trabalhar com
medo”, publicou ela no Twitter.
Pela manhã, o repórter Pedro Durán, da rádio CBN, foi hostilizado por militantes que atiraram garrafas d’água e grades na direção do jornalista. A agressão foi dentro do prédio do sindicato. Durán foi protegido pelo deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) e pelos seguranças do parlamentar.
Entidades ligadas à categoria repudiaram as agressões contra jornalistas. “Fragiliza-se um dos pilares da democracia: a liberdade de expressão”, afirmou a Abraji, em nota.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgaram nota conjunta, anteontem, repudiando as agressões. “Toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atividade jornalística, que é a de levar informação para os cidadãos.”
Investigação. O diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo, delegado Albano David Fernandes, disse que os jornalistas agredidos devem procurar a Delegacia Seccional de São Bernardo do Campo para fazer o exame de corpo de delito a fim de constatar lesões e identificar os agressores. “É nosso dever investigar esse tipo de agressão”, afirmou.