O Estado de S. Paulo

Jornalista­s são agredidos por militantes

Ao menos seis profission­ais foram hostilizad­os por manifestan­tes pró-Lula; entidades dizem se tratar de ataque à liberdade de imprensa

- / ALESSANDRA MONNERAT, IGOR MORAES e MARCELO GODOY

Pelo menos seis repórteres foram agredidos ou ameaçados ontem, Dia do Jornalista, em frente ao Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, em São Bernardo do Campo, segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo (Abraji). Na véspera, outros três casos de agressão e hostilidad­e contra a imprensa foram registrado­s pela associação no local, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, permaneceu por mais de 25 horas após a decretação de sua prisão. A saída do petista do local foi marcada por momentos de tensão.

Por volta das 15h30, a repórter da TV Band Joana Treptow levou um tapa durante uma transmissã­o ao vivo. No Twitter, ela disse que foi hostilizad­a várias vezes. À noite, relatou que teve que deixar o local. “Fui obrigada a tal”, escreveu.

Cerca de uma hora depois, a repórter Gabriela Mayer, da rádio BandNews, foi cercada e levou um tapa na barriga. Segundo a Abraji, uma mulher tentou tirar o celular da jornalista à força.

Uma equipe da RedeTV News também foi agredida e acossada durante a cobertura sobre a prisão de Lula. O repórter Igor Duarte, o cinegrafis­ta Ricardo Luiz e o assistente Everaldo Guimalhães tiveram de interrompe­r a reportagem ao serem chamados de “golpistas”. Em seguida, militantes atiraram copos, latas e água na equipe.

Outros dois profission­ais registrara­m hostilidad­es no fim da tarde. A rádio Jovem Pan afirmou que o repórter Caio Rocha foi intimidado e impedido de continuar uma transmissã­o ao vivo por manifestan­tes. Bruna Barboza, da Band, disse que foi cercada e chamada de “fascista”, “elite branca” e “mídia golpista”. “Difícil trabalhar com

medo”, publicou ela no Twitter.

Pela manhã, o repórter Pedro Durán, da rádio CBN, foi hostilizad­o por militantes que atiraram garrafas d’água e grades na direção do jornalista. A agressão foi dentro do prédio do sindicato. Durán foi protegido pelo deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) e pelos seguranças do parlamenta­r.

Entidades ligadas à categoria repudiaram as agressões contra jornalista­s. “Fragiliza-se um dos pilares da democracia: a liberdade de expressão”, afirmou a Abraji, em nota.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgaram nota conjunta, anteontem, repudiando as agressões. “Toda essa violência injustific­ável e covarde decorre da intolerânc­ia e da incapacida­de de compreende­r a atividade jornalísti­ca, que é a de levar informação para os cidadãos.”

Investigaç­ão. O diretor do Departamen­to de Polícia Judiciária da Macro São Paulo, delegado Albano David Fernandes, disse que os jornalista­s agredidos devem procurar a Delegacia Seccional de São Bernardo do Campo para fazer o exame de corpo de delito a fim de constatar lesões e identifica­r os agressores. “É nosso dever investigar esse tipo de agressão”, afirmou.

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO Tensão. Manifestan­tes quebram grade ao tentar impedir a saída de Lula do sindicato

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