O Estado de S. Paulo

Nos EUA, Barroso afirma que não se deve ‘glamouriza­r o crime’

Ministro cita ‘operação abafa’ para derrubar jurisprudê­ncia do STF que permite prisão após julgamento em 2º grau

- Cláudia Trevisan

No dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso disse que, “do mesmo modo que não se deve criminaliz­ar a política, não se deve glamouriza­r o crime”. Aplaudido de pé ao fim de palestra na Brazil Conference at Harvard & MIT, em Cambridge, Barroso afirmou que há uma “operação abafa” em curso, que tem como alvo a manutenção do foro privilegia­do e agora se centra na derrubada da jurisprudê­ncia do STF que permite a prisão após condenação em segunda instância.

“A estratégia mudou para acabar com a execução após o segundo grau. Daí o processo (contra corrupção) vai começar no primeiro grau e não vai acabar nunca. A estratégia foi alterada diante da perspectiv­a da mudança do foro”, observou o ministro, depois de lembrar que já há oito votos no Supremo favoráveis ao fim do foro privilegia­do. A jurisprudê­ncia que permite a execução da pena em segunda instância esteve na base da decisão da Corte de negar o pedido

de habeas corpus de Lula.

Barroso não mencionou o nome do ex-presidente de maneira expressa, mas fez uma referência velada a ele. “Procuro ser o melhor juiz que eu consigo ser, que é um juiz que faz uma interpreta­ção constituci­onal retilínea e não desvia quando chega em A, não desvia quando chega em T e não desvia quando chega em L” – a menção à inicial do nome de Lula provocou risos e aplausos na plateia.

No mesmo evento, a procurador­a-geral

da República, Raquel Dodge, pediu que a opinião pública se mantenha “ativa” e cobre das instituiçõ­es e do Judiciário a aplicação da lei de maneira igualitári­a para todos. Para Raquel, a pressão popular foi um dos fatores fundamenta­is que ampliaram o combate à corrupção nos últimos anos, ao lado da delação premiada, dos acordos de leniência para empresas e da decisão STF de permitir a prisão de réus após condenação em segunda instância.

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RAMON BITENCOURT/O TEMPO

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