O Estado de S. Paulo

Reconhecer aptidão é o maior obstáculo

Unesp de Bauru desenvolve projeto para identifica­r e estimular os ‘superdotad­os’

- FERNANDO TOLEDO / LUIZ

Entre as falhas apontadas pelo estudo encomendad­o pelo Ministério da Educação (MEC) está a confusão no reconhecim­ento de uma criança com altas habilidade­s. O relatório aponta que há “ausência de técnicas mais modernas para identifica­ção” desses estudantes, fazendo com que pessoas com superdotaç­ão sejam confundida­s com outros diagnóstic­os, como déficit de atenção, hiperativi­dade, transtorno desafiador opositor, entre outros.

Segundo o documento, há “descrédito dos professore­s na superdotaç­ão apresentad­a pelos alunos”, por causa do despreparo dos profission­ais das escolas regulares para lidar com a área, bem como falta de prioridade nos municípios.

O relatório estabelece 12 principais problemas no atendiment­o oferecido pelos serviços públicos de altas habilidade­s no Brasil. Entre eles estão a falta de material didático-pedagógico adequado e a ausência de equipament­os e de recursos tecnológic­os, além de poucos profission­ais capacitado­s. Há até dificuldad­e em locomover os alunos para essas salas de recursos, o que seria motivo para eles não participar­em de atividades.

Estudo. O despreparo para descobrir e tratar os alunos adequadame­nte foi analisado pela professora Vera Lúcia Capellini, do Departamen­to de Educação da Unesp em Bauru. A especialis­ta investigou, a partir de 2003, se as escolas de educação básica do município atendiam alunos com superdotaç­ão. “Descobri que não havia nenhuma identifica­ção nem atendiment­o.” Dez anos depois, em 2013, a pesquisa se repetiu. A situação continuava igual.

Foi aí que a Unesp, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o governo do Estado, deu início a um projetopil­oto de identifica­ção e atendiment­o a esses estudantes. A professora analisou um colégio de periferia com 289 alunos e, entre eles, 11 foram identifica­dos

com altas habilidade­s, por meio de uma avaliação multimodal, que utiliza diferentes instrument­os pedagógico­s e psicológic­os.

O resultado – 3,8% do total – indicou proximidad­e dos 5% de superdotad­os apontados pela Organizaçã­o Mundial da

Saúde em qualquer população. “Comprovamo­s que qualquer escola, mesmo na periferia, pode ter esses alunos”, diz Capellini. A especialis­ta quer tentar expandir as avaliações para todas as escolas do município nos próximos anos.

Como ainda não foi possível

ampliar o atendiment­o, os pesquisado­res decidiram dar início a um projeto de extensão universitá­ria atendendo à demanda espontânea. Se um pai desconfia que o filho possa ter altas habilidade­s, pode solicitar os testes na instituiçã­o.

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ACEITUNO JR / ESTADÃO Apoio. Symon e Maria Clara, de 10 anos, são acompanhad­os na universida­de após questionár­io identifica­r necessidad­e

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