O Estado de S. Paulo

Problemas começaram no ano passado

-

A entrega de remédios essenciais para a manutenção da vida de portadores de doenças raras começou a apresentar problemas no ano passado e, depois disso, se agravou, conforme associaçõe­s de familiares e pacientes. No último mês, intensific­aram-se os protestos pedindo providênci­as para melhorar o abastecime­nto.

Além das manifestaç­ões, ganharam força as trocas de farpas entre Ministério da Saúde, associaçõe­s e representa­ntes de laboratóri­os produtores, que questionam como as compras são realizadas.

O problema do fornecimen­to de medicament­os para doenças raras se dá tanto no caso de drogas garantidas por meio de ações na Justiça, como é o caso daquelas para HPN, quanto para pacientes de doenças que têm o direito de receber a terapia independen­temente de liminares, como é o caso de pessoas com a Doença de Gaucher, que também reclamam dos atrasos na entrega.

“As compras estão sendo feitas em menor quantidade, há sempre atrasos”, diz Cristiane Simone Hamann, presidente da Associação Catarinens­e de Pacientes Amigos de Gaucher. Não bastasse a demora, no Estado pacientes afirmaram ter recebido doses do medicament­o vencidas.

Casa sem uso. Assim como a família de Wellinton Gross (leia mais acima), Mateus Faria, de 23 anos, também ficou menos de um mês na casa nova, toda construída para que pudesse se deslocar com cadeira de rodas. Em outubro, depois de ficar mais de um mês sem a medicação usada para controlar a mucopoliss­acaridose (MPS) tipo 4, uma doença rara ligada a produção de enzimas, o jovem morreu.

“O atestado informa que foi de insuficiên­cia respiratór­ia aguda”, conta sua mãe, Maria Edilene de Queirós Faria. Mateus há anos lutava contra a doença.

“Mas ele morreu por falta de remédio. Ele andava de cadeira de rodas, tinha limitações, mas podia ainda viver muito tempo se tivesse o tratamento adequado”, acredita Maria Edilene. Seu filho mais velho, Lucas, de 25 anos, também tem MPS tipo 4 e está igualmente sem medicament­os. “O estado de saúde dele piorou, mas não foi algo tão rápido quando do irmão.”

A médica Paula Francineti, que atendia os irmãos, diz não ter dúvida de que a morte de Mateus foi provocada pela falta de remédio. “É comou ma pessoa com diabete não receber insulina. O corpo depende do medicament­o. Se não tem como repor, toda a função fica comprometi­da”, explica.

Paula conta que tem visto em seu consultóri­o inúmeros casos de pacientes que têm uma piora significat­iva da saúde por causa da falta de medicament­os. “É angustiant­e. Médicos e pais nos sentimos impotentes.” Ela atua na Paraíba, Estado que apresenta um a frequência elevada de MPS. “Os efeitos da falta de remédio estão aí. Há outros pacientes sob risco.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil