Domingo especial
São Paulo terá domingo diferente – como sempre que se enfrentam Palmeiras e Corinthians. Desta vez, dia ainda mais especial, pois vale taça, o que não acontece em duelos entre ambos desde 1999. Naquele ano de fechamento do “Novecento”, como diriam os italianos, o dérbi decidia o título paulista, mesma situação de agora. Então, a festa foi alvinegra, com provocações e embaixadinhas nos ombros feitas por Edilson “Capetinha”, e bafafá generalizado no Morumbi.
O tempo fechou também na primeira parte do tira-teima atual, sete dias atrás, em Itaquera, o que tirou Felipe Melo e Clayson do capítulo final do Estadual de 2018. Um dos dois não sairá na foto oficial de time campeão. Por pouco, outros não tiveram destino semelhante, por empurra-empurra, pernadas e divididas mais bruscas.
Na semana passada, sobrou adrenalina, faltou futebol. Jogadores das duas equipes entenderam de maneira equivocada a tradição de rivalidade centenária, esqueceram-se da técnica e se preocuparam demais com rispidez e gestos de estouvada bravura. Quando tratou só de jogar futebol, o Palmeiras mostrou-se mais compacto e eficiente, se impôs, marcou o gol que lhe dá a vantagem do empate neste domingo e expôs as limitações corintianas.
A segunda parte desta história deve ser mais amena – espero –, com ênfase na bola e na estratégia. Essa é a lógica, nem sempre presente no clássico paulista mais popular, e aqui não vai nenhum demérito para a importância de Santos e São Paulo. (Parênteses. Como falava Lima Duarte, no papel de técnico alviverde, para Marisa Orth, nas vestes de uma maria-chuteira, em Boleiros, do amigo e colega dominical Ugo Giorgetti: “A senhora não sabe o que é um Palmeiras x Corinthians!”)
Os dois times precisam ter comportamento cerebral no Allianz Parque. Por motivo objetivo: para os palmeirenses, basta o empate para obter troféu que não ergue desde 2008. Aos corintianos, só cabe a vitória, por diferença mínima que seja, no mínimo para ir para os pênaltis e etc. e tal. Bem, o regulamento o caro leitor conhece.
A diferença pesaria em favor do lado palestrino, não fosse o poder de reação já demonstrado pela turma de Fábio Carille. O Corinthians, ressalte-se, não tem sido sólido e invulnerável, como em boa parte de 2017. Para ficar apenas no retrospecto recente, penou nos dois confrontos com o Bragantino (perdeu como visitante, ganhou como mandante) e nos dois com o São Paulo (caiu, sem jogar bem, na casa do oponente, e venceu na própria). Deu a volta por cima e deixou a desejar diante do Palmeiras na derrota por 1 a 0.
Carille e Roger Machado não têm ases na manga, exceto se inventaram algo de última hora. O chefe da trupe esmeraldina (epa, acho que é a primeira vez que uso essa expressão dos tempos da vovó!) conta, porém, com mais diversidade do que o colega. O elenco é mais variado e com alternativas de qualidade para modificar roteiro de uma partida. E Roger tem aproveitado bem a generosidade do banco.
Nas escalações, Carille terá de desdobrar-se, e deu a entender que fará mudanças. Ele tem dois problemas: o meio-campo não tem sido letal, e faz falta o talento de Jadson. O ataque se ressente, ainda, da saída de Jô. A valentia de Sheik nem sempre tem dado resultado, e a paciência deve ser o recurso corintiano para cavar ao menos um gol. Roger não tende a mudar nada, exceto na escolha do substituto de Felipe Melo, com Moisés na preferência.
É “o” clássico. Haja emoção!
Hoje é dia de Palmeiras x Corinthians. Melhor ainda: hoje é dia de gritar “campeão!”
Leituras saborosas. Li num fôlego só Os Beneditinos, de José Trajano, e Dois cigarros, de Flávio Gomes. Ambos são jornalistas com longa atuação na área de Esportes e se mostram ficcionistas hábeis, delicados e divertidos. Espero novas aventuras.