O Estado de S. Paulo

Ambientado, Ceni vai moldando seu próprio Fortaleza

Em busca do primeiro título, treinador novato tem moral no Pici e ajuda a redesenhar o futebol da equipe cearense

- Matheus Lara

“Quem vê até parece que ele voltou e está aqui para jogar’’, diz o taxista Antônio Ari, torcedor do Ceará, incomodado enquanto dirige rumo ao CT Ribamar Bezerra, do Fortaleza. Ele fala de Rogério Ceni, técnico da equipe, que passou a ser quase onipresent­e no noticiário esportivo e nas rodas de conversa da cidade desde que assumiu o time em janeiro. “Falam dele como se fosse um parente, algo assim, é só um técnico!”

Que a contrataçã­o teria grande repercussã­o no ano de seu centenário o Fortaleza já sabia. Também sabia que corria um risco de imagem, de talvez ter um técnico maior que o próprio clube. Mas tudo foi calculado – e hoje o time vive a expectativ­a de obter o primeiro grande trunfo de sua ousadia: um título estadual sobre o principal rival, o Ceará. E Ceni tem a chance de levantar seu primeiro troféu como técnico.

O clima na cidade é de que o Fortaleza passa por uma revolução. Financeira, em primeiro lugar. O “efeito Ceni’’, aliado ao acesso à Série B do Brasileiro, fez o número de sócios-torcedores do time passar de 6 mil para 17 mil em menos de cinco meses. Se tornou a principal receita do clube que tem o baixo orçamento de R$ 22 milhões para 2018. Houve impacto também nos patrocínio­s: o espaço master na camisa, que antes rendia pouco mais de R$ 80 mil mensais, agora estampa a marca da Caixa, que pagará R$ 200 mil por mês ao clube.

“O centenário por si só é ano especial. E estarmos na Série B nos deu perspectiv­a de termos bom cresciment­o. A chegada do Rogério também contou nisso”, analisa o presidente do clube, Marcelo Paz. “Agora vendemos mais camisas, temos mais sócios-torcedores, mais seguidores nas redes.”

Mudanças também acontecem na estrutura do clube. Tudo com dedo de Ceni, que mantém o rigor que lhe rendeu certa antipatia na experiênci­a no comando do São Paulo. Mal chegou e já molda o Fortaleza ao seu gosto e de acordo com suas convicções. Mas o que para alguns pode soar como arrogância,

no Fortaleza foi recebido não só com bons olhos, mas com investimen­to. Foi de Ceni o pedido para a construção de um campo adicional para treinos na sede: R$ 68 mil. Também pediu uma academia nova anexa à fisioterap­ia: R$ 130 mil. Gastos não previstos, mas prontament­e executados.

A rotina do clube e dos atletas também mudou. Antes, o time fazia a maior parte de seus treinos na sede perto do centro da capital, no estádio Alcides Santos, mas, por privacidad­e, Ceni pediu melhorias e otimização no uso do CT em Maracanaú, a 24 km do centro, antes mais utilizado pelas categorias de base do clube tricolor.

Por uma determinaç­ão do professor, agora todos jantam juntos antes de sair do CT.

“Antes alguns comiam aqui, outros não, mas agora é uma regra determinad­a pelo Rogério”,

conta uma das nutricioni­stas do clube, Laene Oliveira. “É melhor, pois assim temos o controle de que eles têm uma alimentaçã­o balanceada e adequada. Isso tem efeito em campo.”

A análise de desempenho também se tornou mais intensa e exigente, de acordo com funcionári­os. Primeiro a chegar e último a sair do CT na maior parte dos dias, Ceni trabalha antes e depois do treino com dados e estudos junto com o restante da comissão técnica. Chega a ligar para colegas em feriados ou dias de folga para perguntar dados e informaçõe­s sobre adversário­s e atletas.

O elenco demonstra confiança. “Ele sempre tem algo a falar”, conta o goleiro Marcelo Boeck. “Às vezes o que parece uma simples defesa só aconteceu por causa das palavras dele.”

O zagueiro Ligger talvez discordari­a do taxista alvinegro do início da reportagem. Para ele, Ceni e Fortaleza já têm relação familiar. “Ele se apegou muito ao grupo. Espero que possamos dar essa alegria a ele, a conquista de seu primeiro título.”

Para isso, o Fortaleza, que perdeu o primeiro jogo por 2 a 1, terá de vencer por qualquer placar. Aí, levará a taça por ter melhor campanha.

Mineiro. A decisão do Campeonato Mineiro ocorre sob tensão, principalm­ente para os jogadores do Cruzeiro. Em consequênc­ia da derrota na primeira partida por 3 a 1, um grupo de torcedores foi ao treino na sexta-feira ameaçá-los e exigir o título hoje, na partida das 16h no Mineirão. Embora pequeno, o grupo causou preocupaçã­o.

O técnico Mano Menezes não revela o time, mas precisando vencer por dois gols de diferença – assim o Cruzeiro será campeão por ter melhor campanha –, deve optar pela entrada de Sassá no ataque, pois Raniel não está bem fisicament­e.

O Atlético tem consciênci­a de que está com a taça na mão, mas o técnico Thiago Larghi pede atenção. “A gente sabe que não pode abrir mão da nossa pegada, da marcação, do respeito ao adversário, de tratar a partida com seriedade. Nossos pés estão no chão’’, garantiu.

Gaúcho. O Grêmio está muito perto de conquistar um título que não ganha desde 2010. Fez 4 a 0 no Brasil na primeira partida e pode perder por três gols de diferença hoje, às 16h, em Pelotas. Apesar disso e de estar envolvido na disputa da Libertador­es, o técnico Renato Gaúcho vai escalar todos os titulares.

A diretoria gremista já prepara a festa. A única preocupaçã­o no momento é com o assédio do Flamengo sobre o técnico Renato Gaúcho.

Marcelo Paz PRESIDENTE DO FORTALEZA ‘Rogério pensa como um gestor de futebol. Tem padrão e referência­s de qualidade’

 ?? PAULO MATHEUS / FORTALEZA EC ?? ‘Dono’ do time. Rogério Ceni mexeu na estrutura do Fortaleza, modernizou o clube e caiu nas graças da torcida e dos jogadores do clube cearense
PAULO MATHEUS / FORTALEZA EC ‘Dono’ do time. Rogério Ceni mexeu na estrutura do Fortaleza, modernizou o clube e caiu nas graças da torcida e dos jogadores do clube cearense

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