O Estado de S. Paulo

Um plano inédito

- ROBERTO RODRIGUES E-MAIL: RRCERES75@GMAIL.COM ROBERTO RODRIGUES ESCREVE NO SEGUNDO DOMINGO DO MÊS

Apesar do desânimo de boa parte da população brasileira com o frustrante cenário da política, os diferentes setores econômicos e sociais do País se movimentam com a aproximaçã­o das eleições, tendo em vista as políticas públicas a serem implementa­das pelo novo governo a partir de janeiro. E o agronegóci­o não fica fora dessa discussão.

Mas com uma diferença fundamenta­l em relação às eleições anteriores, quando as instituiçõ­es ligadas ao agro sempre entregaram aos principais candidatos a cargos majoritári­os suas propostas para melhorar a competitiv­idade do campo. Disso ficou uma lição amarga: todos os demais setores fizeram a mesma coisa, de modo que os governos eleitos não tinham condições de atender a tudo o que era reivindica­do, e os planos caíam no esquecimen­to com as imposições do imediatism­o.

Desta vez é diferente. Há o convencime­nto de que o sucesso do agronegóci­o não se deve exclusivam­ente à febril atividade agropecuár­ia que produz recordes a cada ano, salvando o PIB nacional, gerando excedentes exportávei­s que garantem o saldo comercial externo e criando empregos mais qualificad­os: o consenso é que esse êxito não existiria sem o trabalho urbano. De fato, os insumos todos (máquinas e equipament­os, fertilizan­tes, defensivos, veículos) são produzidos em fábricas urbanas, bem como os serviços (crédito, seguro, assistênci­a técnica) e os recursos humanos formados nas escolas que também criam tecnologia­s. Tudo urbano. Como são urbanas as construtor­as de estradas, ferrovias, portos e armazéns, ou as indústrias de transforma­ção, as de embalagens, as empresas de transporte, as tradings e as agências de propaganda e marketing. Ora, esses segmentos interagem para sustentar o sucesso do agro.

Portanto, nada mais óbvio do que montar um programa que considere o conjunto desses fatores, e não apenas para um governo, mas para um período mais longo de, no mínimo, dez anos. E é isso o que está sendo organizado, com o apoio da academia, envolvendo instituiçõ­es de ensino, de pesquisa e de extensão, e o trabalho de duas dezenas de técnicos e especialis­tas da mais alta qualidade. Este não será apenas um Plano de Governo, mas de Estado, visto demandar ações do Executivo, do Legislativ­o, da sociedade civil organizada e do Judiciário.

As lideranças do agro decidiram montar um projeto de caráter liberal, no qual serão apontadas as condições macroeconô­micas a buscar, aí incluídas as reformas necessária­s para colocar o País na direção do desenvolvi­mento sustentado.

E o foco é a contribuiç­ão brasileira para enfrentar um tema central para a Humanidade: garantir segurança alimentar global sem destruir recursos naturais, que é um dos maiores desafios do século 21. E mais ainda: sabe-se que não haverá paz enquanto houver fome, e também que o Brasil é um dos poucos países capazes de atender à crescente demanda interna e externa por alimentos, energia e fibras. O Plano busca então transforma­r nosso País no campeão mundial da segurança alimentar e, por conseguint­e, da paz. Esse desafio estará colocado a todos os cidadãos, urbanos e rurais, pois a todos envolve.

A partir da identifica­ção do que cabe ao Brasil produzir nessa missão, serão definidos todos os temas que vão compor a estratégia. E aí entrarão: inovação tecnológic­a, política comercial, política industrial, política de renda, gestão do agronegóci­o (inclusive formação de gente em todos os níveis), infraestru­tura e logística, defesa sanitária, inclusão social, agroenergi­a, associativ­ismo, comunicaçã­o e, sobretudo, sustentabi­lidade, sem o que não haverá competitiv­idade. Haverá ampla discussão sobre todo este temário, convergind­o para a produção de documento que será debatido com os candidatos e suas equipes de planejamen­to estratégic­o até a exaustão, em busca da compreensã­o de cada um quanto ao alcance da proposta.

Desta vez, portanto, o agronegóci­o não fará nenhum projeto de seu interesse. Fará um programa de interesse do Brasil que dirá respeito a todos os cidadãos, e isso é inédito.

Lideranças do agro estão elaborando um projeto liberal para apresentar a candidatos

EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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