O Estado de S. Paulo

Desafio da nova equipe é cortar gastos

Tarefa deve provocar um embate entre as alas econômica e política do governo e ter desdobrame­ntos importante­s em um ano eleitoral

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli NOVA EQUIPE ECONÔMICA

Com o governo sem força para dar continuida­de à agenda de ajuste fiscal no Congresso, a equipe econômica que assume esta semana terá o desafio de fechar os cofres do Tesouro. Uma medida que deve ser especialme­nte sentida em ano eleitoral e diante da pretensão do presidente Michel Temer de se reeleger. A tarefa deve resultar em um embate maior entre as alas econômica e política do governo.

Os dois lados já incorporam vitórias e derrotas. O staff econômico perdeu um dos coordenado­res do processo de privatizaç­ão da Eletrobrás, o secretário executivo do Ministério das Minas e Energia, Paulo Pedrosa, preterido para a titularida­de da pasta. A ala política tentou, sem sucesso, barrar a escolha de Eduardo Guardia para substituir Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda.

De perfil técnico e discreto, Guardia é conhecido por ser duro nas negociaçõe­s com o Congresso e por ter batido de frente com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Mas agora foi aconselhad­o a adotar um tom mais conciliado­r se não quiser virar alvo de fritura já na largada de sua gestão.

Apelidado de “Sr. Não”, terá de passar a dizer ao menos “talvez” para as demandas do Congresso, segundo fontes da área econômica. O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), lembrou que não há “imposição” e que Guardia precisará ter sensibilid­ade e compreensã­o para negociar.

Apesar de ser a indicação de Meirelles, Guardia não era consenso no meio político. Mesmo após sua confirmaçã­o no comando da Fazenda, o clima é de inseguranç­a em relação ao compromiss­o do governo com a atual política econômica. Caso haja sinal de mudança nessa orientação, o mais provável é que haja um desmonte de toda a equipe. O sentimento é de derrota diante das fissuras deixadas pelas recentes mudanças.

A reforma ministeria­l provocou mais baixas do que o previsto no roteiro inicial. Com a escalação de Dyogo Oliveira para a presidênci­a do BNDES, o comando do Ministério do Planejamen­to também foi transferid­o para um técnico, Esteves Colnago, que recebeu apoio do líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR).

Mas a maior ruptura deve ocorrer no Ministério de Minas e Energia, que pode ser assumido por Moreira Franco. Com o nome do emedebista liderando a disputa da cadeira, o secretário executivo da pasta, Paulo Pedrosa, entregou sua carta de demissão. Ainda há dúvidas sobre a permanênci­a do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Jr. Os dois estavam à frente do processo de privatizaç­ão da estatal e veem risco de o projeto de venda da companhia ser sabotado pelas lideranças do MDB no Norte, Nordeste e em Minas Gerais.

Reação. Com a possibilid­ade crescente de frustração na privatizaç­ão da Eletrobrás e também a aprovação de medidas pelo Congresso que significar­am renúncia de receitas, a área econômica já avisou que haverá reação. Qualquer perda de arrecadaçã­o obrigará a uma nova revisão do Orçamento deste ano e mais bloqueio de recursos.

Guardia e Colnago ainda terão de sair da retaguarda das negociaçõe­s reservadas de gabinete para fechar a proposta de Orçamento para 2019 e resolver o impasse em torno do cumpriment­o da “regra de ouro”, que impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes. O rombo na regra para o ano que vem está próximo de R$ 200 bilhões.

A elaboração e negociação do Orçamento do ano que vem será o maior desafio dos dois técnicos porque o nível de despesas discricion­árias, que o governo pode cortar, ficará em torno de R$ 100 bilhões, valor considerad­o baixo e que praticamen­te inviabiliz­a o funcioname­nto da máquina pública. Esse é o patamar que o governo vai poder gastar em custeio e investimen­to respeitand­o o teto de gastos.

O economista Gabriel Leal de Barros, diretor da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado, diz que há risco real de o nível de compressão das despesas discricion­árias dificultar o cumpriment­o do teto de gastos em 2019.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-17/6/2016
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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL-2/4/2018
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WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL

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