O Estado de S. Paulo

100 anos de arte belga

Mostra em SP reúne obras de artistas como Magritte e Ensor

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

“Fica melhor aqui do que no meu apartament­o.” O comentário é de uma bem-humorada Françoise Simon, proprietár­ia de uma vasta coleção que chega ao País como a exposição 100 Anos de Arte Belga – Do Impression­ismo ao Abstracion­ismo no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, até 10 de junho.

Avinda da Coleção Si mona o País é um desejo de Françoise de retomar o projeto iniciado por seu marido, o engenheiro alemão Heinrich Simon, interrompi­do após a sua morte, em 2011. Até então, a coleção, adquirida pelo casal ao longo de 30 anos, já havia viajado pela Europa, América do Norte e pelo Japão. O Brasil, portanto,éo primeiro país da América Latina a recebera coleção e ainda o primeiro destino desde a morte de Simon. “Para ser honesta, o Brasil nunca passou pela minha mente”, confessa Françoise ao

Estado, um dia após ter visitado a instalação na Fiesp pela primeira vez. “Mas agora que estou aqui, estou muito feliz com o que foi feito.”

Aos cuidados da galeria de Patrick De rom, em Bruxelas, coma curadora Laura Neve, a coleção chamou a atenção de Cristina Barros-Greindl, coordenado­ra geraldam ostrana Fiesp,aol ado de Patrícia Galvão, que já tinha vontade de trazer uma mostra sobre arte belga. “Queria trazer uma exposição desse período rico da arte belga e a Laura falou que estava coma coleção da senhora Sim on”,explic aC ristina.

Para o Brasil, Laura fez uma curadoria mais didática, para aproximar o público da arte belga moderna, não tão difundida no País. Para isso, ela escolheu 69 obras, das mais de 90 da coleção, que contemplam 37 artistas. Além disso, separou em cinco categorias, que não são, necessaria­mente, cronológic­as. “A exposição é um pouco pedagógica, então mesmo quem não conhece muito bema arte belga, pode entendera evolução ”, explica Laura. “Os temas permitem uma forma mais viva e instintiva de compreende­r, e não apenas histórica.” Temáticas. A seleção começa com a seção Vida e Luz, que compreende obras do chamado “luminismo belga”, semelhante ao pontilhism­o francês. Emile Claus, James Ensor e Théo Van Rysselberg­he são alguns dos nomes presentes. “São obras que reproduzem a luz do dia, de forma natural, com pessoas comuns que viviam em Flandres.”

A exposição continua com Realidades Alternativ­as, que traz obras de Jos Albert, Jean Brusselman­s e mais Ensor, que incorporam períodos belgas de fauvismo e simbolismo. “São cenas simples, naturezas-mortas, interiores, mas o uso de cor era muito novo, utilizado com muita liberdade.” Entre Engajament­o e Escapismo pode ser, talvez, a mais badalada seção da exposição, por conter obras dos surrealist­as René Magritte e Paul Delvaux. Explora, de acordo com Laura, o desejo de fugir da realidade moderna e industrial da época da Primeira Guerra Mundial. “Em suas diferentes correntes, os artistas buscavam escapar da realidade, mas de uma forma engajada com temas e causas sociais, principalm­ente por conta da crise da época.”

As duas últimas seções, Da Natureza ao Poema Pictórico e No Rigor, falam do abstracion­ismo belga. A curadora explica que a divisão é para abordar duas correntes, uma com ligação com a natureza e outra que se afasta da realidade. “Esta última quer enfatizar formas e cores, a pintura, em si mesma, numa língua mais universal.”

A curadora, belga, demonstra empolgação. “É raro ter uma coleção privada que permita mostrar a evolução e o panorama da arte de um país”, elogia. “É uma grande oportunida­de.”

100 ANOS DE ARTE BELGA

Centro Cultural Fiesp. Avenida Paulista, 1.313. Tel: 3146-7000. 3ª a sáb., 10h às 22h. Dom., 10h às 20h. Grátis. Até 10/6.

 ?? FOTOS ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO ??
FOTOS ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO
 ??  ?? Belga. A curadora, Laura Neve, selecionou artistas como Claus (D) e Delvaux (abaixo)
Belga. A curadora, Laura Neve, selecionou artistas como Claus (D) e Delvaux (abaixo)
 ?? ENSOR, JAMES/AUTVIS, BRASIL, 2018 ?? Satírico. Obra 'Du Rire Aux Larmes' é uma das várias de James Ensor que estão presentes na exposição
ENSOR, JAMES/AUTVIS, BRASIL, 2018 Satírico. Obra 'Du Rire Aux Larmes' é uma das várias de James Ensor que estão presentes na exposição
 ?? HUGO MAERTENS ??
HUGO MAERTENS
 ?? PHOTOTHÈQU­E R. MAGRITTE/AUTVIS, BRASIL, 2018 ?? Destaque. Quadro surrealist­a ‘Dialogue Dénoué par le Vent’, de Magritte
PHOTOTHÈQU­E R. MAGRITTE/AUTVIS, BRASIL, 2018 Destaque. Quadro surrealist­a ‘Dialogue Dénoué par le Vent’, de Magritte
 ?? FONDATION PAUL DELVAUX/AUTVIS, BRASIL, 2018 ??
FONDATION PAUL DELVAUX/AUTVIS, BRASIL, 2018

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil