O Estado de S. Paulo

‘Minha veia é por inovação, por mais dinamismo’

Dirigente afirma que uma parte importante de sua experiênci­a é criar um time ganhador

- Cláudio Marques

O executivo Fabio di Giammarco nasceu na Itália, foi criado na Venezuela, já viveu nos EUA estudando, trabalhou no seu país natal, na Holanda e hoje, como presidente da Puratos América Latina, divide seu tempo entre Miami e São Paulo. “Na verdade, minha base é um avião”, diz brincando. Mas com um certo tom de verdade. É a partir dessas duas cidades que ele visita as unidades da região. E uma vez por mês ainda se reúne na Bélgica com os dirigentes mundiais da empresa fornecedor­a de produtos para panificaçã­o, confeitari­a e chocolate. Formado em publicidad­e e relações públicas com mestrado em administra­ção de empresas pela Bentley College, em Boston (EUA), Giammarco começou sua carreira na área de marketing e vendas da cervejaria venezuelan­a Polar, passou pela Danone na Itália, onde ajudou a desenvolve­r um novo negócio da empresa. Em seguida, foi trabalhar para a Philips, em Amsterdã, onde ajudou a desenvolve­r praticamen­te toda a propaganda e marketing da companhia no mundo.

Em 2007, a empresa o transferiu para o Brasil. “Depois dessa experiênci­a na Holanda, me propuseram assumir a responsabi­lidade pelo marketing para toda América Latina. Depois, também peguei a responsabi­lidade pelo negócio de consumo no Brasil.” Com os bons resultados obtidos, a companhia queria que ele voltasse para a Holanda, mas ele se apaixonou pelo Brasil e decidiu ficar mais tempo por aqui. Foi, então, trabalhar na SAB Miller, de cervejas. Posteriorm­ente, foi para a Bacardi. Primeiro, como presidente das operações no Brasil, depois se tornou responsáve­l pela região Cone Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Brasil). Em seguida, foi para a Puratos, onde está à frente de nove fábricas, com capacidade de produção de 262.000 toneladas. São mais de 1.100 funcionári­os em 16 países nas Américas Central e do Sul, divididos em 4 sub-regiões, que representa­m 10% das vendas no mundo e 11% do lucro da companhia. A seguir, trechos da entrevista.

Qual é seu perfil de executivo?

A minha veia é por inovação, cresciment­o, transforma­ção, para dinamizar a companhia. Essa é a fase de desenvolvi­mento de uma empresa em que eu tenho a maior ou melhor atuação. Sou mais do tipo de executivo que entra quando o negócio está precisando de uma virada, ou de mais dinamismo. Por isso, uma parte importante da minha experiênci­a é com time. Criar um time ganhador, que trabalha bem junto, criar uma cultura de colaboraçã­o que consiga destravar o que está travado e fazer o cresciment­o chegar.

Além do time, que ferramenta­s adota para ter bons resultados?

São três fatores. O primeiro, é marcar uma estratégia muito clara. Ao longo do tempo, os negócios acabam entrando em

confusão, ou tentando fazer muito mais coisas do que podem, ou acabam perdendo a visão das prioridade­s. Uma das minhas pegadas fortes, quando tomo o controle de uma operação, é dar uma direção muito clara, uma visão muito clara, uma estratégia que se consiga comunicar desde o time de liderança de executivos até o último empregado. Se todas as pessoas entendem para onde estamos indo, se conseguem falar para você no elevador, em três minutos, ‘olha a empresa está focada nisso, é para lá que estamos indo’, isso ajuda muito a empresa a destravar, a conseguir crescer.

Pode exemplific­ar?

Dou o exemplo da Bacardi. Os cinco objetivos principais da companhia estavam sim nas nossas apresentaç­ões estratégic­as, mas também estavam em um mural enorme no refeitório. Todos os dias, quem fosse tomar o café da manhã, ou almoçar, conseguia enxergar de novo quais eram nossas prioridade­s estratégic­as. Eu acho muito importante o processo de comunicaçã­o. É uma ferramenta fundamenta­l. Outra ferramenta, o segundo fator, é o time, já

falamos. Mas não só ter as pessoas certas, mas também colocar os processos e as dinâmicas para que essas pessoas certas se falem entre elas, consigam colaborar entre elas. É importante criar a cultura aberta de comunicaçã­o, de colaboraçã­o, estimular a tomada de riscos.

E qual é o terceiro fator?

Eu sinto que eu coloco nos sistemas, nas empresas, muita energia. É o motor de energia, um grau saudável de impaciênci­a, um grau de indignação quando as coisas não acontecem na rapidez e com a qualidade que devem acontecer. Mas é uma vibe legal, de fazer com que as pessoas fiquem com tesão de vir trabalhar de manhã. Às vezes, eu sinto que as empresas caem, ao longo do tempo, em letargia.

Choque “Às vezes, eu sinto que as empresas caem, ao longo do tempo, em letargia. Gosto de ser o executivo que chega e dá uma acordada na energia do sistema”

Gosto de ser o executivo que chega e dá uma acordada na energia do sistema.

Qual é o desafio na Puratos?

Quando cheguei e comecei a viajar e a conversar com as pessoas, percebi que cada um reinventav­a a sua própria roda. Havia pouca colaboraçã­o entre as unidades e todos os países se reportavam direto para mim. Eu criei, então, quatro sub-regiões, que concentram outros países. Desse jeito, consegui ter um time de liderança mais enxuto, mais ágil, e com o cabeça de cada uma dessas áreas compartilh­ando muito mais informaçõe­s. Eu deixei o Brasil independen­te em razão do tamanho, complexida­de, língua. E depois criamos funções regionais. Temos um líder regional de operações, que cuida de todas as nossas fábricas, uma líder de RH regional, que cuida da função de recursos humanos. Temos ainda líderes de finanças, pesquisa e desenvolvi­mento. Quatro vezes por ano, esse time todo (responsáve­is pelos países e os responsáve­is pelas funções) se encontra, conversa, compartilh­a as melhores práticas. O primeiro resultado começa a se ver com o que aconteceu

em 2017 com a companhia: crescemos saudavelme­nte, quase 15% na região. Somos uma região rentável e saudável.

Ao longo da carreira, qual experiênci­a ressalta?

A experiênci­a que me deixa mais orgulhoso foi a transforma­ção da Bacardi. Pegamos uma empresa que estava um pouco adormecida, e conseguimo­s dobrar o tamanho da companhia, reativar o portfólio de inovação, virar fornecedor preferido de clientes como Walmart e Pão de Açúcar, formar um time de liderança legal, que fez com que a empresa se tornasse um dos Great Place to Work no Brasil. Foi uma transforma­ção muito visível no mercado. Passamos de tentar procurar pessoas boas para ir trabalhar na empresa a receber muito mais currículos do que podíamos processar, porque as pessoas queriam mesmo ir trabalhar lá. Aumentado o investimen­to nas marcas, aumentou muito a visibilida­de, atraímos o público jovem. Foi uma transforma­ção muito legal, a ponto de que dessa posição eu fui cuidar do negócio mundial de rum da Bacardi, que era 50% do faturament­o da companhia.

 ?? DANILO KOSHIMIZU / VALETIN STUDIO ?? Giammarco. ‘Eu sinto que coloco muita energia nos sistemas, nas empresas, uma grau saudável de impaciênci­a’
DANILO KOSHIMIZU / VALETIN STUDIO Giammarco. ‘Eu sinto que coloco muita energia nos sistemas, nas empresas, uma grau saudável de impaciênci­a’

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