Negócios de garagem
Pessoas com poucos recursos adotam essa opção para começar um empreendimento; quem já está no mercado aprova o modelo
Muitos empreendimentos têm
início em pequenos espaços caseiros, como a mercearia criada por Cilsa dos Santos (foto); veja como é a experiência de empresários que seguem essa trilha
Neste ano, a Feira do Empreendedor, que ocorre até a próxima terça-feira, 10, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, conta com o espaço ‘negócios de garagem’, no qual consultores do Sebrae estarão dando orientações a quem vai empreender em espaço reduzido.
“Essa é a realidade de muitas pessoas que não têm recursos para criar um negócio e aproveitam a própria casa para começar”, diz a analista de negócios do Sebrae, Carina Tasaka.
Inaugurada há dois meses, a Mercearia Vieira’s, de Cilsa Sandra Silva dos Santos, nasceu dessa maneira. “A garagem de casa estava alugada para uma igreja, mas como eles entregaram o espaço e eu estava desempregada há bastante tempo, meu marido e eu resolvemos montar um mercadinho no local.”
Administradora, Cilsa trabalhava como auxiliar administrativa. “Meu marido é motorista e sempre sonhou em montar um mercadinho para nós. Agora, me ajuda nas horas vagas.”
Moradora de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, ela aposta na conveniência do ponto para atrair a freguesia. “Aqui, tudo fica longe. Começamos oferecendo itens da cesta básica, alguns produtos congelados e material de limpeza. Nos primeiros dias, pegamos 30 pãezinhos na padaria para revender. Hoje, estamos vendendo 150 pães por dia. Acho que esse número representa um grande avanço”, avalia.
A empresária pretende instalar mais prateleiras para que possa ampliar o sortimento de produtos, além de comprar um freezer para oferecer mais opções de congelados.
Cilsa levou um ano para montar o negócio. “Compramos as prateleiras, pagamos, depois compramos a máquina de frios. Por último, compramos os produtos e abrimos as portas. A experiência está sendo uma grande surpresa, porque eu não imaginava que teria um relacionamento tão bom com o público.”
Em estágio mais avançado está
a marca Tio Coxinha, criada em 2013 por Elisabete Monteiro. O negócio nasceu na garagem de sua casa, em Caraguatatuba.
Elisabete era promotora de vendas em supermercado e sonhava em montar um negócio. “Como tenho talento para cozinha, comecei a fazer trufas que eram vendidas em alguns pontos do comércio local. A ideia da coxinha surgiu depois que fiz salgadinhos para a festa de 15 anos da minha filha.”
Logo depois da festa, ela diz que seu marido soube que havia uma máquina para rechear e formatar salgados como coxinha e bolinhas de queijo. “Financiamos um equipamento e passamos a vender mini salgados na Feira do Rolo de Caraguatatuba.
Foi um sucesso. Só tiramos dinheiro do nosso bolso para pagar a primeira parcela, depois, o faturamento foi suficiente para pagar o financiamento.”
Elizabete diz que a máquina fazia três mil salgados por hora. “Com o tempo, compramos mais máquinas e aumentamos a produção. Também saímos de casa e fomos para um pequeno galpão. Depois, construímos uma fábrica com espaço cinco vezes maior.”
Hoje, a marca produz 150 mil salgadinhos por dia e emprega 13 pessoas. “Chegamos a ter três lojas próprias. Mas o nome ficou muito forte no Litoral Norte e muitas pessoas nos procuraram para vender o produto com a nossa marca. Há um ano, começamos a franquear. Agora, temos uma loja própria e 13 franqueadas no Litoral Norte e no Vale do Paraíba.”
Em Heliópolis, na capital, Enilson da Rocha Guimarães e Vanessa Dantas da Silva, criaram
a lanchonete Mega Burguer, depois de terem passado dois anos fazendo salgadinhos na cozinha da casa onde moram.
“Com o aumento das vendas, pudemos alugar a garagem de um vizinho e montamos uma pequena lanchonete, há dois anos. Com o tempo, passamos a oferecer, além de salgados, lanches variados, beirutes e fogaças, porque o público pediu mais variedades”, diz Enilson.
O empresário conta que conheceu sua mulher quando trabalhavam em uma lanchonete. “Eu trabalhei 23 anos como empregado e a Vanessa, seis anos. Nós dois tínhamos o sonho de ter negócio próprio, quando ficamos desempregados resolvemos apostar nessa ideia.”
Cuidados.
A consultora do Sebrae Mariane Primazelli afirma que o primeiro passo para empreender na garagem é a formalização do negócio.
“É importante porque, entre outros motivos, e a lei de zoneamento urbano define algumas áreas como estritamente residenciais. Ao iniciar um negócio, mesmo não estando formalizado, poderá ter problemas. É preciso procurar a prefeitura para saber sobre a lei de zoneamento, porque essa informação ainda não está integrada com o Portal do Empreendedor.”
Ela afirma que ao montar o negócio na garagem de casa, o empreendedor deve fazer entrada separada para a residência. “Também deve pensar na roupa que vai usar para trabalhar e estabelecer horário de funcionamento, que deve ficar exposto em local visível, na fachada do estabelecimento, incluindo os seus contatos.”
Mariane destaca a importância de prestar atenção ao controle financeiro e manter separadas as finanças da empresa e os gastos pessoais.