O Estado de S. Paulo

PT envelheceu à sombra do líder

- Aldo Fornazieri PROFESSOR DA ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA

Independen­temente do desfecho do conflito político que envolve o ex-presidente Lula e da crise que atinge as instituiçõ­es do País, as esquerdas, particular­mente o PT, terão de se reinventar. Elas enfrentam uma crise no mundo ocidental, com perdas de espaço político e com o cresciment­o da extrema-direita. O que está em crise é o seu ideário, o seu modo de agir, o seu modo de se organizar, o seu conteúdo programáti­co e a sua forma de relação com a sociedade.

A força que ainda tem a esquerda brasileira se deve muito mais à liderança e ao poder simbólico de Lula e a antigos líderes, que estão à margem da disputa político-eleitoral, do que às suas estruturas organizati­vas e à sua inserção social. O PT envelheceu à sombra de Lula e não conseguiu se renovar nem transitar para uma era pós-Lula. São poucos os jovens engajados no partido. Sem uma transição geracional, o que há é uma ruptura, com perda de substância política e sem inovação.

PT e esquerdas perderam a noção de que política, sobretudo nos momentos críticos, se decide pela força organizada dos partidos e dos movimentos sociais. As esquerdas se comunicam mal com a sociedade. Precisam rever seus métodos de ação e de organizaçã­o, abrindo-se mais à participaç­ão democrátic­a. Precisam reescrever seus programas, apostando nas revoluções educaciona­l e tecnológic­a, precisam criar programas de inclusão social em grande escala. Este é o maior desafio do PSOL, preso a bandeiras temáticas, e que pode herdar bases do PT.

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