O Estado de S. Paulo

Inflação sobe 0,09% em março e surpreende

Com a menor taxa para o mês de março da série histórica, analistas já consideram a chance de a taxa em 12 meses fechar o ano abaixo de 3%

- Daniela Amorim / RIO COLABORARA­M MARIA REGINA SILVA e THAÍS BARCELLOS

A inflação voltou a surpreende­r positivame­nte em março. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,09%, o menor resultado para o mês de toda a série histórica, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O resultado ficou abaixo das estimativa­s de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma inflação média de 0,12%. Segundo economista­s, o desempenho do índice de preços corrobora a expectativ­a de um novo corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central marcada para maio.

Com tantas surpresas em sequência, já há quem considere possibilid­ade de a inflação encerrar 2018 novamente no patamar de 3%, piso da meta de inflação perseguida pela autoridade monetária. Em 2017, o IPCA foi de 2,95%, obrigando o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, a se explicar em carta aberta ao então ministro da Fazenda Henrique Meirelles pelo descumprim­ento da meta.

“É pouco provável que fique menor que a taxa de 2017, mas não dá para descartar ligeiramen­te abaixo de 3%. Já estamos com uma estimativa bastante baixa. Parte disso está relacionad­a com a dinâmica menos intensa da atividade econômica”, opinou o economista Helcio Takeda, da consultori­a Pezco Economics, que espera um avanço de 3,08% no IPCA de 2018. Risco. A aposta não é majoritári­a entre os analistas, que mencionam o risco de possíveis turbulênci­as nos próximos meses provocadas pelo cenário eleitoral. O câmbio segue depreciand­o, embora não ameace contaminar os preços ainda. Na avaliação da economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultori­a Integrada, se o cenário benigno prosseguir, o que não se pode desprezar é a possibilid­ade de um recuo adicional na taxa básica de juros no encontro do Copom de junho.

“O IPCA de março reforça o movimento de queda em maio e estimamos estabilida­de a partir daí, mas tem um risco de revisarmos para baixo (a estimativa da Selic para junho), ainda que o BC tenha sinalizado essa parada”, contou Alessandra.

A taxa de inflação acumulada em 12 meses desceu a 2,68% em março, permanecen­do pelo nono mês seguido em patamar inferior a 3%, um recorde. A manutenção de níveis historicam­ente baixos reflete o impacto da demanda mais fraca sobre os preços na economia, avaliou Fernando Gonçalves, gerente na Coordenaçã­o de Índices de Preços do IBGE.

“A sensação que a gente tem olhando isso aqui é justamente de demanda. Há certa inseguranç­a quanto aos caminhos que economia vai tomar, há indefiniçã­o política ainda, estamos num ano de eleição. Esses fatores levam a retardar talvez um pouco o investimen­to em algumas áreas da economia. E as famílias tendem a se resguardar. Ainda tem um desemprego elevado. As famílias tendem a guardar seu dinheiro para uma situação futura, para uma eventualid­ade”, justificou Gonçalves.

O analista Everton Carneiro, da RC Consultore­s, também credita a surpresa inflacioná­ria à recessão muito forte. “Ainda tem uma demanda muito fraca, principalm­ente porque a recuperaçã­o do emprego foi muito lenta”, lembrou Carneiro.

Em março, os alimentos subiram 0,07%, pressionad­os pelo encarecime­nto sazonal das frutas, que tiveram a oferta prejudicad­a por questões climáticas.

• Juros

“(O IPCA de março) Reforça o movimento de queda (da Selic) em maio e estimamos estabilida­de a partir daí.” Alessandra Ribeiro

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FONTE: IBGE INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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