O Estado de S. Paulo

CARROFOBIA

Fazer baliza, subir ladeiras, guiar em rodovias e sob chuva são um pesadelo para pessoas como Julia. Veja formas de vencer esses e outros medos

- Rafaela Borges rafaela.borges@estadao.com

Omedo de situações corriqueir­as ao volante pode se transforma­r em motivo para que algumas pessoas deixem de guiar. Há quem fique inseguro com a possibilid­ade de encarar ladeiras, estradas, chuva ou mesmo estacionar. Muitos temem outros motoristas, algo que vem aumentando com o maior número de carros nas ruas e com a falta de educação ao volante.

“Medo e fobia são diferentes”, diz a psicóloga Cecilia Bellina, dona da autoescola que

leva seu nome e atende pessoas

habilitada­s que têm medo de dirigir. “O medo é uma emoção boa, pois é protetora”, diz. “Quando o excesso de cuidado atrapalha a vida, é porque se tornou uma fobia, e precisa ser

tratada.” A fobia a carros é chamada de amaxofobia.

Cecilia afirma que são três os principais medos relacionad­os à ação de dirigir. Em primeiro lugar, está o de errar. O segundo fator que mais assombra os motoristas, segundo ela, são as subidas. Em terceiro aparecem as manobras ao volante.

Proprietár­io do centro de pilotagem que leva seu nome, Roberto Manzini acrescenta que a maioria das pessoas tem medo do equipament­o (carro). “Elas não sabem dominá-lo, e precisam aprender”, afirma.

MOTIVOS

A razão mais comum para a amaxofobia, segundo Cecilia, é o estresse traumático. No geral, isso ocorre com quem já sofreu um acidente. É o caso da técnica de enfermagem Vanessa Carvalho, que deixou de guiar em estradas depois de uma colisão. Ela ficou com medo de velocidade. “Se eu passo dos 60 km/h, começo a tremer, e já tive de parar o carro. Por isso, não consigo atingir velocidade­s seguras para andar em rodovias.”

Por causa da fobia, Vanessa teve de mudar de emprego. “Só guio dentro da minha cidade, Bragança Paulista, e eu trabalhava em Atibaia (ambas no interior)”, conta. “Eu tinha de pegar quatro ônibus e perdia quatro horas do dia.” Ela já fez terapia para tentar vencer esse medo. “Não adiantou”, conta.

Já a dona de casa Maria Aparecida Silva conseguiu vencer sua fobia de volante. Após sofrer

um acidente, ela passou e ter pavor de dirigir. “Eu tinha medo dos outros motoristas, e ainda hoje tenho um pouco, mas não deixo mais isso me afetar.”

Maria conta que, após o acidente, quando ia guiar, seu corpo todo doía. “Eu contraía demais o maxilar.” Ela procurou ajuda psicológic­a convencion­al e, 15 anos após o acidente, começou a fazer aulas de direção para pessoas habilitada­s.

Nada adiantou, e então ela partiu para o treinament­o que inclui ajuda psicológic­a junto com enfrentame­nto do medo (leia mais na próxima página). Após um ano e meio de tratamento, ela voltou a guiar. Hoje, dirige em qualquer situação.

O jornalista Alexandre Cossenza considera seu medo saudável. Ele foi assaltado três vezes ao volante. Em uma das ocorrência­s, foi vítima de sequestro relâmpago. Em outra, acabou batendo o carro na tentativa de fugir da abordagem.

Depois disso, o morador de Petrópolis (RJ) passou a ter medo de guiar em alguns locais do Rio de Janeiro, onde os assaltos ocorreram. “Mas não deixo de fazer nada por causa disso. Apenas fico sempre bastante atento aos espelhos (retrovisor­es) e evito rodar em algumas ruas, principalm­ente à noite, quando isso é possível.”

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ERIK FREELAND/GETTY IMAGES
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As subidas íngremes estão entre as principais ‘barreiras’ para muitos motoristas

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