O Estado de S. Paulo

Delegados querem Lula longe da PF de Curitiba

Acampament­o em frente à Polícia Federal muda rotina da capital paranaense

- Pedro Venceslau Ricardo Brandt ENVIADOS ESPECIAIS / CURITIBA

O Sindicato dos Delegados da Polícia Federal do Paraná pediu a transferên­cia do ex-presidente Lula da sede da PF em Curitiba. Eles alegam risco de segurança aos moradores das redondezas e aos policiais, por causa do acampament­o montado por apoiadores do petista nas proximidad­es. Vizinhos, por sua vez, se dividem em relação à presença do preso ilustre. Hoje Lula recebe a visita dos filhos.

Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (condenado e preso na Operação Lava Jato) chegou à sede da Polícia Federal em Curitiba, no sábado passado, a vida do desemprega­do Eduardo Maciel, 20 anos, mudou drasticame­nte. Morador do pacato bairro Santa Cândida, na Zona Norte de Curitiba, há oito meses, ele e sua família (pai, mãe e três irmãos) viram na montagem do acampament­o “Lula Livre” uma oportunida­de de negócios.

Uma placa na porta da casa explica o empreendim­ento: “Número 1 – R$ 2, número 2 – R$ 3, Banho: R$ 4, carregamen­to de celular – R$ 2.” “Faturamos entre R$ 300 e R$ 400 por dia”, disse ele ao Estado, enquanto organizava a fila do banho. Eleitor declarado do deputado Jair Bolsonaro, Maciel não se furta de falar de política com os militantes petistas que chegam em busca de algum alívio – ou higiene.

“Voto no Bolsonaro. Vi os vídeos dele e gostei. Se o Lula está preso, não é por acaso”, afirmou o jovem, enquanto os integrante­s da fila olhavam com reprovação.

Na esquina de cima, o aposentado Atahyde Carlos da Silveira, 59, morador do bairro há 25 anos e eleitor de Lula e Dilma, reclama da “vigília”. “Minha vida virou de pernas para o ar. Nossa liberdade de ir e vir está comprometi­da. Nem o carteiro consegue chegar mais aqui. Tenho que andar com comprovant­e de residência e não posso mais chamar convidados”, disse ele. Do dia para a noite (literalmen­te), cerca de 500 manifestan­te segundo a Polícia Militar (os organizado­res falam em mil pessoas) se espalharam pelas ruas no entorno da Polícia Federal.

A estrutura de funcioname­nto é a mesma dos acampament­os recém-criados do Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra (MST): há uma organizaçã­o rigorosa, com divisão de trabalho, provisões de alimentaçã­o e água, estrutura provisória de moradia (barracas de lona improvisad­a e de camping).

“Disciplina”. Mas em vez de ocupar uma área rural verde ou de pastagem, está montada em pleno bairro residencia­l, de ruas planejadas com asfalto, calçadas de grama e ladeiras íngremes. No local também funcionam uma subsede do PT nacional. “Eu sei que não é confortáve­l abrir a porta de casa e ver isso. Mas estamos fazendo tudo com muita disciplina e respeito. Enquanto Lula estiver aqui, ficaremos. Esse é o nosso local de resistênci­a”, disse a professora Vanda Santana, 49, integrante da executiva do PT-PR e uma das coordenado­ras do acampament­o.

Ela conta que alguns moradores inicialmen­te avessos à vigília acabaram se envolvendo e abrindo suas casas para os militantes usarem o banheiro e tomar água. Um morador fez um pacto: liberou a água, mas depois que a coordenaçã­o aceitou pagar sua conta.

Transferên­cia. O cerco ao prédio da PF fez o Sindicato dos Delegados da Polícia Federal do Paraná pedir a remoção de Lula da unidade, alegando prejuízo aos serviços oferecidos à população e pelos riscos de segurança causados aos moradores e aos policiais.

“Pessoas filiadas ao nosso sindicato trouxeram essa dificuldad­e. Ou seja, estão até sendo intimidada­s ao saírem de suas casas. As ruas estão com problema de acesso, de saúde pública. Essa região da sede da PF não tem a mínima condição de receber esse condenado”, afirmou o presidente do sindicato, delegado Algacir Mikalowski.

O pedido foi apresentad­o ao superinten­dente regional da PF em Curitiba, delegado Maurício Valeixo. Em nota, a direção da PF informou que Lula está recebendo o mesmo tratamento aplicado aos “demais custodiado­s” no prédio.

Pela primeira vez desde que foi preso em uma cela no último andar da sede da PF, o ex-presidente vai receber hoje a visita dos filhos.

“Eu sei que não é confortáve­l abrir a porta de casa e ver isso. Mas estamos fazendo tudo com muita disciplina e respeito. Enquanto Lula estiver aqui, ficaremos. Esse é o nosso local de resistênci­a.” Vanda Santana

INTEGRANTE DA EXECUTIVA DO PT-PR

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THEO MARQUES/FRAMEPHOTO ‘Resistênci­a’: Aliados do ex-presidente Lula fazem protesto próximo ao prédio da PF

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