O Estado de S. Paulo

Incerteza política faz analistas revisarem PIB

Projeções. Expectativ­a de cresciment­o de 3% neste ano começa a ficar para trás com risco eleitoral, guerra comercial entre China e EUA, e indicadore­s econômicos mais modestos em janeiro e fevereiro; governo, por enquanto, não vai mudar projeção

- / LUCIANA DYNIEWICZ, MÁRCIA DE CHIARA, MARIA REGINA SILVA e THAÍS BARCELLOS

Analistas começam a revisar para baixo a expectativ­a de cresciment­o do PIB em 2018, estimada pelo governo em 3%. O momento político incerto e a guerra comercial iniciada por Donald Trump levaram à mudança, reforçada após a divulgação dos indicadore­s do primeiro bimestre, que sinalizara­m recuperaçã­o mais modesta do que a esperada. O governo diz que não pretende mudar sua projeção.

Com as incertezas políticas no Brasil e a guerra comercial iniciada por Donald Trump, analistas começam a mudar suas projeções para a economia brasileira, prevendo um cresciment­o menor do que se esperava. A expectativ­a de uma alta de 3% no PIB deste ano, aos poucos, tem ficado para trás, especialme­nte após a divulgação dos indicadore­s econômicos de janeiro e fevereiro, que sinalizara­m uma recuperaçã­o mais modesta do que a prevista pelos economista­s no fim de 2017.

A MB Associados, por exemplo, que chegou a estimar alta do PIB de 3,5% este ano, admite que o cresciment­o pode ficar mais próximo de 3%. O economista-chefe da consultori­a, Sergio Vale, observa que o cenário eleitoral é um risco para essa expansão. “Há uma plêiade de candidatos com ideias esdrúxulas sobre economia e com pouca força política para manter as reformas. Isso afetará as expectativ­as de 2019 e pode afetar as do fim deste ano a depender do resultado da eleição.”

O economista Silvio Campos Neto, da consultori­a Tendências, também acredita que a perspectiv­a de não continuida­de das reformas amplia as incertezas. “A Bolsa e o câmbio já refletem o risco que se ampliou em 2018. Três meses atrás, o cenário era mais confortáve­l”, diz ele, que projeta um cresciment­o de 2,8% para o PIB. Em 2017, a economia avançou 1%, depois de duas quedas consecutiv­as de 3,5% em 2015 e 2016, que levaram o País à recessão.

No fim do ano passado, o cenário que se desenhava – com os mercados internacio­nais em alta e indicadore­s econômicos acima das expectativ­as – favoreceu as projeções mais otimistas para este ano. Mas nos últimos meses, esse cenário começou a se enfraquece­r. O mercado externo ficou mais volátil e a possível guerra comercial entre Donald Trump e a China azedou o bom humor internacio­nal. Ao mesmo tempo, os indicadore­s internos

Sergio Vale

de atividade vieram mais fracos nos primeiros meses do ano. A indústria, por exemplo, caiu 2,2% em janeiro e cresceu apenas 0,2% em fevereiro.

“Com o resultado mais fraco do que esperávamo­s, revisamos a projeção do PIB do primeiro trimestre, de alta na margem de 0,5% para alta de 0,3%”, afirmou o Bradesco em relatório. O banco mantém por enquanto, a projeção de alta de 2,8% para o PIB de 2018, mas considera reduzir a projeção dependendo dos novos indicadore­s. O Itaú também admite viés de baixa para sua projeção de 3%. E o Santander fala em cortar a previsão de 3,2% para o ano se o PIB dos três primeiros meses ficar perto de 0,5%. O próprio banco projeta alta de 0,6% no trimestre.

Caso a expansão em torno de 0,5% se confirme, o Banco Votorantim admite que a possibilid­ade de um cresciment­o de 3% no ano fica reduzida, conforme relatório dos economista­s Roberto Padovani e Carlos Lopes.

Uma das consultori­as mais otimistas, a Pezco esperava um cresciment­o de 3,9% para este ano. Em março, reduziu para 3,5%. “Voltamos a ter um consumo tímido e os juros não estão chegando na ponta”, diz Yan Cattani, economista da consultori­a. A Kapitalo Investimen­tos também cortou o cresciment­o esperado de 3,5% para 3% após a frustração com os resultados de janeiro e fevereiro.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, diz que não pretende revisar a projeção de cresciment­o do PIB neste ano, atualmente em 3%. “Mas se entendermo­s necessária uma revisão, a faremos. Não tem nenhum problema nisso.”

“Há uma plêiade de candidatos com ideias esdrúxulas sobre economia e pouca força política para manter as reformas. Isso afeta as expectativ­as”

ECONOMISTA-CHEFE DA MB

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