Trump liga ataque químico na Síria à Rússia
Disputa de gigantes. Presidente usa Twitter para anunciar ação militar com mísseis ‘lindos, novos e inteligentes’ contra alvos sírios e responsabiliza russos pelo massacre de civis com gás tóxico; Moscou diz que episódio em Duma foi encenado para justific
Donald Trump declarou em uma rede social a intenção de atacar a Síria e relacionou a Rússia ao atentado químico em Duma. “A Rússia prometeu derrubar os mísseis disparados contra a Síria. Esteja preparada, Rússia, porque eles chegarão lindos, novos e inteligentes”, escreveu. Em resposta, Vladimir Putin disse que não pratica “diplomacia de Twitter”.
O presidente Donald Trump não fez o que disse quando foi candidato e decidiu “telegrafar” no Twitter a intenção de atacar a Síria com mísseis “inteligentes”. O post matinal de ontem surpreendeu seus principais assessores e levou o presidente russo, Vladimir Putin, a declarar que não pratica a “diplomacia do Twitter”.
“O meio escolhido por Trump e o tom casual para falar de assuntos de guerra e paz contrastam com os rituais seguidos por outros presidentes americanos em situações semelhantes”, disse Andrew Rudalevidge, especialista em história presidencial dos EUA da Faculdade Bowdoin, em Maine.
“Os sinais da Casa Branca em casos como esse eram bem coordenados. O tuíte pareceu ser uma rápida reação a algo que o presidente viu na TV sobre os russos dizendo que resistirão a qualquer tipo de intervenção americana na Síria”, observou. Moscou é o principal aliado de Bashar Assad e tem presença militar no país desde 2015.
O historiador Geoffrey Kabaservice disse que quase tudo no governo Trump não tem precedentes. “A questão agora é que sua falta de experiência está criando problemas com o aparato militar e de segurança do Estado”, afirmou. “É totalmente possível imaginar que os EUA não lançariam um ataque com mísseis contra a Síria se não existissem os tuítes de Trump.”
Segundo ele, o presidente fez exatamente o que criticou em seu antecessor, Barack Obama, durante o ataque com armas químicas que deixou 1.400 pessoas mortas na Síria, em 2013. “Ele criou uma linha vermelha, prometeu um tipo de ação e pareceria fraco e ineficaz se não a cumprisse.” No fim, Obama desistiu de retaliar Assad.
Trump também indicou ao adversário os seus passos. Durante a campanha eleitoral, ele atacou Obama por ele “telegrafar” suas intenções e retirar o elemento surpresa de ações militares. “A Rússia prometeu derrubar todos os mísseis disparados contra a Síria. Esteja preparada, Rússia, porque eles chegarão, lindos, novos e ‘inteligentes’! Vocês não deveriam ser parceiros de um animal assassino com gás que mata seu povo e se diverte com isso”, escreveu Trump.
Em Moscou, a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova,
ironizou o tuíte de Trump. “Mísseis inteligentes deveriam voar na direção de terroristas e não na de um governo legítimo que luta contra o terrorismo.”
A retórica de Trump representa uma mudança radical em relação a Putin, a quem ele criticou no domingo pela primeira vez de maneira expressa, logo depois do ataque com armas químicas que deixou dezenas de mortos na Síria. Moscou nega que o ataque tenha ocorrido.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que inteligência coletada pelos EUA indica o contrário. “O presidente responsabiliza Síria e Rússia por esse ataque”, declarou. Para Kabaservice, um ataque à Síria será interpretado como uma tentativa de Trump de manter sua credibilidade ou distrair a opinião pública da investigação sobre a Rússia. “Ele não será visto como parte de uma resposta proporcional à ofensa do regime sírio.”