O Estado de S. Paulo

Deputados pressionam dono do Facebook

Zuckerberg admitiu essa prática em alguns casos e ainda que teve suas próprias informaçõe­s coletadas por quiz

- / B.C. e C.T.

Além de coletar dados de seus 2,13 bilhões de usuários, o Facebook admitiu ontem que compila também informaçõe­s sobre pessoas que não fazem parte da maior rede social do mundo. “Em geral, nós coletamos dados de pessoas que não são usuários do Facebook por questões de segurança”, disse Mark Zuckerberg, presidente executivo, ao responder uma pergunta do deputado democrata Ben Lujan, do Novo México.

Lujan citou a existência de “perfis-sombra” na rede social, que combinam as informaçõe­s coletadas pelo Facebook por meio de cookies – recurso disponível na maior parte dos navegadore­s capazes de reter dados e preferênci­as dos usuários – e plug-ins da rede social distribuíd­os em sites pela internet. Zuckerberg disse que “não estava familiariz­ado com o termo”.

“Você está coletando dados de pessoas que nem são usuários do Facebook, que assinaram um acordo de consentime­nto, de privacidad­e”, criticou Lujan. Zuckerberg afirmou que o objetivo da prática é ajudar a prevenir que pessoas mal intenciona­das coletem informaçõe­s públicas de usuários do Facebook.

Zuckerberg afirmou ainda que está entre os 87 milhões de usuários da rede social que tiveram suas informaçõe­s coletadas pelo quiz This is your digital life, criado pelo pesquisado­r Aleksandr Kogan e depois vendidas à empresa de inteligênc­ia Cambridge Analytica.

A informação foi revelada pelo executivo ao responder a pergunta da deputada democrata Anna Eshoo, que representa a região do Vale do Silício, em uma resposta simples e afirmativa de Zuckerberg. Foi a primeira vez em que Zuckerberg admitiu que seus próprios dados pessoais foram expostos por meio das interfaces de programaçã­o de aplicativo (APIs) da rede social. Como na época que o aplicativo foi criado, a plataforma do Facebook permitia o acesso a dados pessoais de amigos, não é possível saber quantas pessoas conectadas ao perfil de Zuckerberg tiveram seus dados coletados também por Kogan.

Isso porque o número de amigos do executivo não é exibido em seu perfil no Facebook, somente o número de seguidores, ao contrário dos perfis comuns. Em sua fala, a deputada Anna Eshoo afirmou que os “danos do Facebook à democracia são incalculáv­eis”.

Zuckerberg voltou a ser interpelad­o, pela deputada Jan Schakowsky a respeito das “outras empresas” para as quais Kogan teria vendido dados obtidos por meio do quiz.

“Vamos falar depois?”, desviou o executivo. Ela voltou a perguntar: “Qual é o número?”. Ele respondeu que não é um número grande de empresas. Ela rebateu: “O que é um número grande?” Zuckerberg encerrou a questão dizendo que “foi um punhado de empresas”.

Comando. Enquanto o depoimento de Zuckerberg na Câmara acontecia, a consultori­a política Cambridge Analytica divulgou que seu atual presidente executivo, Alexander Tayler, estava deixando o cargo par a retornar à posição de diretor de dados e auxiliar as investigaç­ões feitas atualmente dentro da empresa.

Tayler substituiu Alexander Nix, cofundador da Cambridge Analytica que foi afastado de seu cargo após o escândalo do uso ilícito de dados pela consultori­a política, revelado pelos jornais The New York Times e The Observer, de Londres.

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ALISON YIN/INVISION/AP-5/8/2014 Exposição. Anna perguntou sobre dados de Zuckerberg

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