O Estado de S. Paulo

Mais desigual

Segundo o IBGE, renda média mensal dos mais pobres caiu em 2017 em relação ao ano anterior mesmo com o fim da recessão

- Daniela Amorim / RIO

País tinha 10,3 milhões de pessoas vivendo com R$ 40 por mês em 2017, segundo o IBGE. Na outra ponta, 1% ganhava em média R$ 15,5 mil.

Embora o ano de 2017 tenha marcado o fim da recessão e o início do processo de recuperaçã­o do mercado de trabalho, o Brasil ainda tinha 10,355 milhões de cidadãos vivendo com apenas R$ 40 por mês, em média. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

A situação é ainda mais grave do que a verificada no ano anterior, quando a renda média mensal dessas pessoas alcançava R$ 49. Ou seja, os brasileiro­s mais pobres ficaram 18,4% ainda mais miseráveis.

“Tem menos pessoas trabalhand­o, tem menos pessoas com carteira assinada, tem uma qualidade do emprego mais baixa. Embora a queda na renda seja estatistic­amente estável, isso tem influência. Tudo o que o mercado de trabalho gerou de ocupação em 2017 foi voltado para a informalid­ade. A gente ainda não tem aumento no trabalho com carteira assinada. Isso influencia muito fortemente o rendimento da população”, justificou Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Ao mesmo tempo, no topo da pirâmide, apenas 2 milhões de brasileiro­s, o equivalent­e a 1% da população residente, recebiam R$ 15.504 mensais, 387,6 vezes mais do que aqueles 10 milhões mais pobres.

A desigualda­de aumentou em quatro das cinco grandes Regiões do Brasil na passagem de 2016 para 2017. Mesmo no Sudeste, onde houve ligeira queda no Índice de Gini, o recuo na concentraç­ão de renda foi influencia­do por uma precarizaç­ão do emprego, que afetou postos mais qualificad­os e mais bem remunerado­s, apontou o IBGE.

“Se isso está acontecend­o, é uma queda na desigualda­de por um motivo ruim. Tudo mundo ficou mais pobre, não seria um motivo a se comemorar. Mas as perspectiv­as são melhores, com a recuperaçã­o da economia prevista para este ano através dos serviços e da indústria, que empregam mais. No ano passado, a retomada foi através da agropecuár­ia. Com os serviços e indústria, haverá maior proporção de geração de postos formais”, avaliou Bruno Ottoni, pesquisado­r do IDados e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.

O Índice de Gini – indicador que mede a desigualda­de de renda – referente ao rendimento médio real domiciliar per capita manteve-se em 0,549 em 2017. A estabilida­de em comparação ao ano anterior ocorreu por causa de uma queda na Região Sudeste, onde o Gini passou de 0,535 em 2016 para 0,529 no ano passado.

Em todas as demais regiões houve piora. Numa escala de 0 a 1, quanto maior o indicador, pior é a distribuiç­ão dos rendimento­s. No Nordeste, o Gini subiu de 0,555 em 2016 para 0,567 em 2017; no Norte, passou de 0,539 para 0,544; no Sul, de 0,473 para 0,477; e no Centro-Oeste, de 0,523 para 0,536.

Riqueza. Em 2017, os 10% com maior renda concentrav­am 43,3% de toda a riqueza do País, montante superior à toda a massa detida por cerca de 80% da população com renda mais baixa.

Em relação a 2016, porém, tanto o rendimento médio quanto a massa de renda diminuíram no total do País. A renda média mensal real per capita foi de R$ 1.271 no ano passado, ante R$ 1.285 em 2016. A massa de rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 263,1 bilhões em 2017, após ter alcançado R$ 263,9 bilhões no ano anterior.

Entre os trabalhado­res que conseguira­m permanecer empregados no ano passado, os que tinham menor remuneraçã­o viram sua renda cair considerav­elmente.

A metade dos trabalhado­res com menor renda recebia, em média, R$ 754 por mês em 2017, menos do que os R$ 773 registrado­s pela pesquisa em 2016. Ou seja, quase 45 milhões de pessoas ficaram ainda mais distantes de conquistar o salário mínimo determinad­o por lei ao fim de um mês de trabalho.

No ano passado, o País tinha 4,455 milhões de trabalhado­res com rendimento médio mensal de apenas R$ 47. O resultado significa um tombo de 38% em relação aos R$ 76 recebidos por essa fatia da população no ano anterior.

Benefício. Ao mesmo tempo, de acordo com a Pnad Contínua, houve queda no porcentual de domicílios beneficiad­os pelo Programa Bolsa Família que passou de uma fatia de 14,3% em 2016 para 13,7% em 2017. Os domicílios que recebiam o Bolsa Família tinham renda média mensal real per capita de apenas R$ 324 no ano passado. Nos lares que não tinham necessidad­e do benefício de transferên­cia de renda do governo federal, o rendimento médio por habitante subia a R$ 1.489.

“São mesmo os domicílios que a gente entende que deveriam estar recebendo o Bolsa Família. Essas diferenças existem (entre domicílios que recebem e não recebem o benefício)”, declarou Azeredo, do IBGE.

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