O Estado de S. Paulo

Superando o lulopetism­o

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Movimento vem perdendo potência a olhos vistos, embora ainda conserve alguma força para causar danos ao País.

Em que pesem as bravatas de Lula da Silva e de seus fanáticos seguidores, a prisão do ex-presidente foi a culminação de um longo processo de desmoraliz­ação do PT e, principalm­ente, do lulopetism­o. Hoje basicament­e restrito aos grotões remotos do País, a algumas centrais sindicais e a intelectua­is teimosamen­te apegados a utopias, o movimento que leva o nome do demiurgo de Garanhuns vem perdendo potência a olhos vistos, embora ainda conserve alguma força para causar danos ao País.

Isso não significa, contudo, que aquilo que o lulopetism­o representa tão bem – isto é, a ideia de que os problemas podem ser resolvidos por obra apenas da vontade de resolvêlos – esteja superado. Ao contrário: antes de ser causa, o lulopetism­o é o produto mais bem-acabado da incapacida­de atávica de uma parte consideráv­el do País de enfrentar os problemas nacionais.

O sr. Lula da Silva descende de uma extensa linhagem de populistas e demagogos que há muito tempo alimentam as fantasias de milhões de brasileiro­s pobres. Quando chegou sua vez de exercer o poder, o chefão petista estimulou esses eleitores a imaginar que um carro popular comprado a prestações a perder de vista ou um diploma numa universida­de de quinta categoria bastariam para alçá-los à sonhada classe média. Não à toa, em seu discurso de despedida antes de ser preso, o ex-presidente enfatizou que, em sua opinião, foram essas “conquistas” da era lulopetist­a que enfurecera­m “as elites” e resultaram na “perseguiçã­o política” destinada a alijálo da disputa eleitoral. No limite, assim diz o discurso de Lula, quem está preso não é ele, é o povo que ele encarna.

Descontand­o-se o exagero da retórica, o fato é que o lulopetism­o personific­a a ilusão, bastante disseminad­a, de que é possível melhorar as condições de vida no País e fazê-lo progredir sem a necessidad­e de esforço e responsabi­lidade. Seu inebriante sucesso desde que chegou ao poder, em 2003, e a manutenção de parte significat­iva de seu apoio popular mesmo em meio a tantos escândalos são a prova de que muitos brasileiro­s – e não apenas os mais pobres – continuam a considerar justo esperar que o Estado lhes seja um generoso provedor, que fornece subsídios de todo tipo, empregos públicos cheios de privilégio­s, bolsas assistenci­alistas para diversos fins, financiame­ntos a juros irreais, incentivos fiscais os mais variados e, para os mais ricos, participaç­ão no butim das estatais e dos contratos públicos.

Embora tenha nascido pregando a ideia de que era preciso ensinar a pescar em vez de dar o peixe, o lulopetism­o cresceu e se tornou potência eleitoral ao prometer peixes para todos, à custa dos generosos cofres públicos. O PT aderiu alegrement­e à demagogia que tanto dizia combater em seus primeiros anos e transformo­u os arroubos palanqueir­os de Lula em política de Estado de seus governos. O resultado disso, além dos devastador­es escândalos de corrupção protagoniz­ados pelo PT e por seus associados – mensalão e petrolão –, foi a mais profunda e duradoura crise econômica da história nacional. A realidade se impôs à ficção demagógica de Lula.

No entanto, nada garante que o retrocesso representa­do pelo lulopetism­o será mesmo superado. Está cada vez mais claro que os candidatos que dizem disputar o espólio eleitoral de Lula não se dispõem a negar as premissas que engendrara­m o desastre lulopetist­a. Ainda está para ser testada a capacidade do presidiári­o Lula da Silva de transferir votos nessa vexatória condição, mas certamente haverá quem, na melhor tradição do atraso nacional, se apresente como seu herdeiro – se não direto, ao menos ideológico. E isso significa que, mais uma vez, a campanha eleitoral estará eivada da mesma mentalidad­e que resultou no lulopetism­o e que alinha o País, em alguns aspectos, ao que há de mais persistent­emente subdesenvo­lvido na América Latina.

Pode-se dizer que haverá uma verdadeira revolução no Brasil se, apesar de tudo isso, das urnas emergir um governo com disposição para convencer os brasileiro­s de que simplesmen­te não é possível atingir o desenvolvi­mento sem trabalho, esforço e sacrifício­s.

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