O Estado de S. Paulo

Líder republican­o deixará Congresso

Decisão de Paul Ryan de se aposentar ameaça coesão da base de Trump, que corre risco de perder maioria parlamenta­r em novembro

- WASHINGTON /

O presidente da Câmara de Deputados dos EUA, o republican­o Paul Ryan, afirmou ontem que não tentará a reeleição na votação legislativ­a de meio de mandato, em novembro, e se aposentará da vida parlamenta­r em janeiro, ao final de seu mandato. O movimento político foi interpreta­do por analistas como um forte revés para a unidade da base política no restante do governo de Donald Trump.

Ryan, segundo na linha de sucessão à presidênci­a, afirmou que continuará no cargo durante as eleições legislativ­as de novembro, quando todos os 435 assentos na Câmara e um terço do Senado serão renovados. Os republican­os tendem a perder espaço no Congresso e talvez deixem de ter maioria.

Deputado de Wisconsin, Ryan aceitou a liderança da Câmara em 2015 e nunca apoiou completame­nte o atual presidente. Ele disse que sua decisão de não buscar a reeleição é motivada pelo desejo de passar mais tempo com a família, não pela turbulênci­a na Casa Branca. “O que eu percebo é que, se ficar aqui por um outro mandato, meus filhos só terão um pai de fins de semana. Eu não posso deixar isso acontecer”, disse.

Trump elogiou Ryan como “um homem realmente bom”. “Embora ele não busque a reeleição, deixará um legado de realizaçõe­s que ninguém pode questionar – estamos com você, Paul!”, tuitou o presidente.

Chuck Schumer, líder dos democratas no Senado, disse acreditar que, nos meses que lhe restam no Congresso, Ryan “se libere das facções mais conservado­ras de sua bancada, que impediram que o Congresso concretiza­sse coisas”. Schumer disse ainda que, se Ryan quiser procurar os democratas, vai encontrá-los “dispostos e ansiosos para trabalhar com ele”.

Os rumores sobre a aposentado­ria de Ryan circulam há meses em Washington. No começo do ano, ele chegou a negálos. A decisão de Ryan abre a disputa pela liderança republican­a na Câmara dos Deputados, com Kevin McCarthy e Steve Scalise vistos como os principais candidatos ao posto.

Um conservado­r apegado à disciplina fiscal, Ryan não deu pistas sobre suas futuras ambições políticas. Sua conquista mais importante como líder republican­o foi a aprovação, em dezembro, de uma importante reforma tributária que incluiu cortes de impostos corporativ­os.

Paul Ryan ascendeu ao poder como uma das mais proeminent­es vozes críticas ao presidente Barack Obama no Congresso. Ele conseguiu fazer o Partido Republican­o aderir integralme­nte a uma visão de governo libertária em resposta aos programas sociais de Obama. No entanto, desde que Trump se consolidou, as políticas defendidas por Ryan se tornaram impopulare­s.

“Até agora, os republican­os se uniram em torno de Ryan e sua agenda”, disse ao Washington Post o consultor político Whit Ayres. “Mas, desde que Trump assumiu, essa posição mudou. Agora, muitos republican­os rejeitam o Estado mínimo e querem mais programas sociais e um Estado mais atuante, exatamente o que a figura populista de Trump representa.”

 ?? AL DRAGO/BLOOMBERG ?? Fim da linha. Paul Ryan fala no Congresso americano
AL DRAGO/BLOOMBERG Fim da linha. Paul Ryan fala no Congresso americano

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil