O Estado de S. Paulo

Vizinho de prisão no Pará relata rotina de ‘guerra’

- Roberta Paraense ESPECIAL PARA O ESTADO SANTA IZABEL (PARÁ)

“Essa guerra já virou rotina por aqui. Os bandidos entram e saem da cadeia quando bem querem. Eles comandam, e nós é que ficamos presos em casa”, desabafa Daiane da Silva, de 26 anos. A comerciant­e mora na Rua São Luiz, atrás do Complexo de Santa Izabel, onde está o Centro de Recuperaçã­o Penitenciá­rio do Pará III (CRPP III). A cadeia de segurança máxima foi alvo de uma tentativa de resgate que terminou com 21 mortos e 4 feridos.

Cercada de mata, a via situada na linha de fogo é pacata e longe de qualquer indício de urbanizaçã­o. Na tarde de ontem, o movimento era pequeno e quase não se viam pessoas e carros circulando.

Daiane mora com mais cinco pessoas, entre elas uma criança de 5 anos. “O medo é de na troca de tiros alguém ser atingido ou um bandido entrar aqui em casa para se esconder”, comenta.

Cruzando a BR-316, do outro lado do complexo, na Vila de Americano, a lei que predomina é do silêncio. Os moradores estão trancados em casa e, por trás do portão, a dona de casa Maria Silva, de 42 anos, dá poucas palavras. “Não podemos aparecer nem falar muito. Aqui é rota de fuga, temos medo de rebelião e de mais tiroteios.”

Manifestaç­ão. Após um protesto de 30 minutos, que bloqueou as duas vias da BR-316, às margens do complexo de Americano, familiares de detentos voltaram à porta do presídio e cobravam respostas. Aflitos, mães, pais e mulheres buscavam informaçõe­s dos detentos. O clima na porta da cadeia é tenso e o patrulhame­nto no entorno foi reforçado.

Os corpos de oito mortos ainda aguardavam identifica­ção. Quatro servidores feridos no conflito continuam internados.

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