O Estado de S. Paulo

‘SEM AJUDA, NÃO TERIA O QUE COMER’

Francisca perdeu emprego e hoje faz bicos de cabeleirei­ra; ganha cerca de R$ 30 por mês

- Monica Bernardes ESPECIAL PARA O ESTADO RECIFE

Depois de três anos trabalhand­o em um salão de beleza, a cabeleirei­ra Francisca da Silva, de 34 anos, lamenta ter perdido o emprego, no final do ano passado, depois do fechamento do estabeleci­mento. Sem emprego e sem salário, teve que deixar a casa onde morava de aluguel e se mudou com a filha adolescent­e para a casa de uma irmã, onde já residiam outras sete pessoas.

O pouco dinheiro que ganha vem de bicos que consegue cortando cabelo de outros moradores da comunidade do Pilar, localizada no Bairro do Recife, na área histórica da cidade. Nascida na cidade de Caruaru, no Agreste do Estado, mudou-se para a capital há dez anos, em busca de uma vida melhor.

“Aqui todo mundo é muito pobre. Perdi meus materiais durante um assalto e por isso não tenho nem como oferecer meu trabalho em outros locais. Só me sobrou uma tesoura e um pente. Já tentei emprego em dezenas de salões, mas a resposta é sempre a mesma: não há vagas”, conta. “De vez em quando vem alguém aqui na casa da minha irmã pedindo um corte de cabelo, a aplicação de uma tintura e eu faço na hora. Mas o que consigo ganhar é muito pouco. Tem mês que chega a R$ 30.”

Francisca conta que não pode fazer esforço físico porque é cardíaca e que conta com a ajuda da irmã, que trabalha como faxineira. “Se não fosse ela eu e minha filha não teríamos o que comer e nem onde dormir.”

Os serviços de corte oferecidos por Francisca variam de R$ 5 a R$ 7 dependendo do modelo escolhido e do tamanho do cabelo.

Sem emprego formal há mais de 10 anos, quando ocupou, por seis meses, uma vaga de servente de pedreiro, o recifense José Araújo faz malabarism­os diários para sobreviver. Sem dinheiro para pagar aluguel, mora de favor, nos fundos de uma lanchonete no bairro da Boa Vista, área central da capital pernambuca­na. Em troca, varre a área externa do negócio e cuida do jardim. Durante o dia, das 8h às 18h tenta conseguir algum dinheiro lavando para-brisas de veículos nos semáforos de ruas e avenidas do bairro. O ganho mensal com a atividade, segundo ele, não passa de R$ 50.

“Faz muito tempo que eu não sei o que é ter dinheiro certo no bolso e muito menos um salário digno. Todo dia eu me viro para comer. É uma doação de pão, uma fruta, uma marmita. Se não for assim, não consigo. As roupas que eu uso são doadas, os calçados também. Vou de um lado para o outro caminhando porque não tenho dinheiro para o transporte e só tenho um local para dormir porque o dono da lanchonete me conhece há muitos anos e sabe que sou uma pessoa honesta”, contou.

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ALEX SILVA/ESTADÃO-5/4/2014 Pobreza. Bairro no Recife: desigualda­de na distribuiç­ão de renda cresceu no Nordeste

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