Zuckerberg enfrenta a ‘fúria’ da Câmara dos EUA
Na mira. Deputados republicanos e democratas não pouparam questões ao fundador do Facebook sobre o escândalo da Cambridge Analytica e a privacidade de dados dos usuários; influência de russos nas eleições e notícias falsas também foram temas abordados
O presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, teve de enfrentar a fúria dos deputados americanos na audiência realizada ontem no Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Estados Unidos. A maratona de perguntas, que durou cinco horas, se provou mais tensa do que a sessão do executivo com o Senado. Em vez do tom condescendente dos senadores, os deputados não hesitaram em fazer questões difíceis ao executivo, em apontar responsabilidades e, por muitas vezes, interromper as respostas de Zuckerberg quando não estavam satisfeitos.
Zuckerberg parecia tranquilo ao chegar à audiência, mas sua expressão foi mudando ao longo da sabatina. Quando os deputados disparavam perguntas, o executivo muitas vezes hesitou, disse não estar bem informado sobre alguns assuntos e até mesmo mostrou irritação ao ser obrigado a restringir suas respostas a ‘sim’ ou ‘não’. Por muitas vezes, seu rosto ficou vermelho e ele gaguejou.
Os ataques começaram logo na abertura da audiência. O deputado republicano Greg Walden citou um dos principais valores do Facebook, o “Move fast and break things” (“Se mova rápido e quebre coisas”, em tradução literal), como o que levou a empresa a chegar às diversas polêmicas em que está envolvida, como o escândalo do uso ilícito de dados pela Cambridge Analytica, a disseminação de notícias falsas e as tentativas de influência de russos nas eleições. “O Facebook não é maduro”, disse Walden. “A empresa cresceu rápido demais e quebrou muitas coisas. Mas a quebra de confiança com os usuários deve ter consequências.”
O deputado democrata Frank Pallone, um dos que mais pressionaram Zuckerberg a comparecer no Congresso, ameaçou a empresa com regulação. “O Facebook pode ser uma arma para o mal”, afirmou Pallone. “Precisamos achar um jeito de fazer as empresas serem corretas.”
O debate em torno do uso ilícito de dados de 87 milhões de usuários pela Cambridge Analytica, numa tentativa de manipular as eleições de 2016, foi o principal mote da audiência, embora os deputados também tenham abordado a influência de russos nas eleições e a distribuição de notícias falsas no site. “Os danos à democracia causados pelo Facebook são incalculáveis”, afirmou, de forma contundente, a deputada democrata Anna Eshoo.
Anna perguntou a Zuckerberg se ele sente a responsabilidade moral de criar uma plataforma que defenda a democracia. O presidente executivo do Facebook respondeu apenas que sim. A deputada também questionou Zuckerberg se ele estaria disposto a mudar o modelo de negócios da rede social para proteger a privacidade dos usuários. “Não tenho certeza do que isso significa”, disse ele.
Já a deputada democrata Jan Schakowsky leu uma série de pedidos de desculpas feitos por Zuckerberg nos últimos anos. “Me parece, por esse histórico, que a autorregulação feita pelo Facebook simplesmente não tem funcionado para proteger os dados dos americanos.”
Mercado. O mercado de ações seguiu o clima da audiência na Câmara. Nos momentos mais tensos, as ações chegaram a cair, mas se recuperaram. Os papéis do Facebook fecharam o pregão cotados a US$ 166,32, em alta de 0,78% – na terça, após sabatina no Senado, a valorização tinha sido de 4,5%. A empresa está avaliada em US$ 483,16 bilhões, US$ 54 bilhões a menos do que antes do escândalo da Cambridge Analytica.
O senhor pretende mudar seu modelo de negócios para proteger a privacidade dos usuários?” Anna Eshoo DEPUTADA DEMOCRATA
Deputada, eu não tenho certeza sobre o que isso significa” Mark Zuckerberg PRESIDENTE EXECUTIVO DO FACEBOOK, EM RESPOSTA
Rastreamos seus dados mesmo quando você não está dentro do Facebook para evitar abusos” Mark Zuckerberg PRESIDENTE EXECUTIVO DO FACEBOOK
O Facebook não é maduro. A empresa cresceu muito rápido e quebrou muitas coisas” Greg Walden DEPUTADO REPUBLICANO